quarta-feira, 30 de maio de 2012

Um poema do meu amigo José Luis Salles Franco http://agavetaesquizo.blogspot.com.br/ Série que ele chama de "falsos sonetos".

II

Tudo soa falso:
As palavras,
O silêncio de Beethoven,
As valsas de Strauss.

A dança das vozes rodopia,
Os fantasmas, mais uma vez, se cumprimentam.
A infância desaparece no oco da casa.
O tempo fecha portas e janelas.

Não há mais como voltar.
A fotografia nos eterniza para a morte.
Os moinhos não são de vento.

O jogo de amarelinha,
Os caminhos que se bifurcam.
Nada nem ninguém nos salva.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Fui recentemente presenteado (pelo próprio) com o livro do poeta, tradutor e ensaísta Enrique García-Máiquez, intitulado Con nel tiempo, Editorial Renacimiento, 2010. Seu blog pode ser visitado aqui http://egmaiquez.blogspot.com.br/ García-Máiquez, como informa a quarta capa, nasceu em Murcia, mais precisamente em El Puerto de Santa María, em 1969, e publicou três livros de poesia: Haz de luz (1997), Ardua mediocritas (1997) e Casa propia (2004). Possui um parentesco ético-estético (para usar um termo, mas não a grafia, caro ao querido Ricardo Domeneck) com Miguel d'Ors. Para minha alegria, ele traduziu e publicou uma antologia de Mario Quintana, e muita coisa de Millôr Fernandes, mas não sei se saiu em livro. E, pelo que sei, o único ou um dos raros que traduziu parte da poesia de Chesterton para o espanhol (Lepanto y otros poemas, 2003). Fiquei (é uma auto-cobrança) de traduzir vários poemas de E. G.-Máiquez, mas não pude fazê-lo, assim, estou em dívida comigo mesmo. Outras dívidas são traduções iniciadas de Miguel d'Ors (poeta por quem estou fissurado). Abaixo três poemas de Enrique García-Máiquez:

PEOR

"Si dices la verdad, te quedas solo",
suele advertir la gente
muy rara vez por experiencia propia.
Resulta que es peor:
acabas solo sólo con pensarla.


DÍAS

Días en que no ocurre ni un verso
mío ni ajeno (eso es lo mismo).

Días sin Dios. No rezo (o lo hago solo
de labios para fuera).

Repaso los periódicos y voy a mi trabajo
y vuelo y vuelo a ir.

Cuando el amor es estribillo, amor
de canciones de moda oídas en nel coche.

Como precocinados. Hablo con frase hechas.
Veo la tele. Y hasta dormir me da pereza.


MAGIA
A Rocío Arana

La realidad es increíble:
una paloma blanca sacada porque sí
del agujero negro
del sombrero de copa de la nada.

Ese truco no es mío,
pero todos podemos recrearlo
en un cerrar
                    y abrir de ojos:
                                            ?ven?

Y ya abiertos, mirando,
te conviertes de paso en lo que miras.
?Quién no flotó volando una cometa?
?O quién no se sintió, ante el mar, muy hondo?
?O quién no fue de aquí
a allá moviendo el dedo sobre un mapa?

El amor es lo máximo, hace al mundo
girar alrededor de una persona
escogida entre el público asistente,
también giran el sol y las demás estrellas
y todos los planetas, como platos
de un chino equilibrista.
Los ángeles aplauden, es su número
predilecto: "Dos cuerpos
amándose... !Inaudito!"

Y conozco un conjuro que conduce,
                                                          a través
de dudas por aquí
                             y por allá ironías,
a la felicidad.
Basta decir: wislawa-
szymborska. En portugués
también vale decir marioquintana.

?Quieren para acabar un número redondo?
Ta-
      ta-
            ta-
                   chán:
                            !Chesterton!

(Sí, sí, ya está algo visto
-"!Como para no verme!", atronaría -,
pero siempre convence.)



 

terça-feira, 8 de maio de 2012


Dois poemas de Wladimir Saldanha, do livro inédito, mas no prelo As culpas do poema. Ao contrário de Lúcia Delorme, Dom Filipe e Fabiano Garcia Meireles, que somente existem em minha imaginação, Wladimir Saldanha é poeta e escritor soteropolitano da gema.

JÁ AGORA

Nada mais ecoa
de grito ou jura
e nem mesmo o lavado
visgo foi nódoa.
Verdade,
nem chega mesmo a vinco
essa prega de amor
após o banho desfeita:
já o preito habilidoso
de, juntos, forrarmos a cama,
qual bandeira e vencidos.

Logo, bem logo
já se dispersa
todo o encenar debalde,
e a plateia – gato persa
ou bibelô, não mia
nem aplaude.

Nada prevalece
e catamos no chão
invólucros, rastos.
(E, pulcros, nos sentimos castos.)


O ASSINALADO

Qual visita sanitária, amor,
tu me chegaste
e colocaste veneno em quanto havia
de água empoçada, sob flores.

À tua presença, amor,
a teu gesto carinhoso e profilático,
uma lacraia fugiu
do lúgubre refúgio de um caqueiro.

E tanto menti, dizendo
que não estava, que tinha
pressa pressa e não podia
atender, que
até que atendi: até que a moça

entrou, apresentou-se
e já sem pedir licença
foi marcando, ao sair
– e qual cicatriz de doença –

aquele x na minha porta.