terça-feira, 19 de junho de 2012

"Japão de esconderijos"
Állex Leilla




O tempo todo
            toda a manhã
as sombras todas
            harpas  tecido    corações.
Os medos todos
            lenços  meias  divãs
os frascos todos
            a tarde mumificada   o frescor.
Os vidros todos
            cadeiras fitas nylon
os anéis todos
            começos  céus   violões   a cor.
Os não-prazeres todos
            clareza  fugacidade  sabor.
Os repentes todos
            arcas corações  o que já passou.
Essas manhãs
            e outras manhãs.

Állex Leilla




***




Amormeu, mar absoluto,
dos fios dos teus cabelos que ficaram pela casa
preciso, cautelosa, construir outra manhã.
[...]


Te falo as coisas mais claras quando a luz do sol falta.
Te falo as coisas mais duras quando a claridade a tudo recobriu.
Amormeu, tempestade absoluta,
não pedi aos céus que viesses, não pedirei que fiques.
O mundo me acostumou a coisas grandes:
mares sem porto, felicidades maceradas,
roupa limpa no varal.
Nunca, jamais fui pouca
no centro da vida de todos os meus amores, os outros.
E assim acostumada a ser o muito e o tudo
derrapo miúda na manhã em que percebo:
sobrará quase nada de mim no depois.
[...]
Állex Leilla