sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quatro poemas de Bernardo Souto: 
 

SALOMÃO
 
com tijolos feitos de nada
erigi templos e palácios
 
num tempo anterior às horas
escrevi um breve epitáfio
 
só agora compreendo
o estranho idioma dos pássaros

 

HADES 


por muito tempo fitei a Morte:
murmurava-me palavras claras
num idioma desconhecido

sua intangível proximidade
sempre me nutria de medo
remorso
e asco

branca tarântula
feita de abismo

é Ela
que ata as duas pontas da vida

é Ela
a inexistente fronteira
que separa a noite do dia

por muito tempo fitei a Morte

  

BLAISE PASCAL 
 
nunca
ninguém
jamais
será escutado
 
surdo é o grito
dos afogados 

Bernardo Souto, Teatro de sombras, Ed. Moinhos de vento, 2011. 
 

LAO-TSÉ
 
nos confins do Infinito
encontra-se a Fonte
 
jamais poderás ouvi-La
jamais
poderás vê-La
 
aquele que não sentir esta Fonte
será aniquilado
pela mudez das estrelas 

Este último na revista: http://www.leiatom.com/?p=45