segunda-feira, 10 de agosto de 2015

- VI - 
O CORCOVADO
                            
                              Para Vavá Menezes 


És uma lâmpada que adormece na noite úmida
De dia chamas por meu nome e não te escuto
Nave de luto, ombro de urso, por quem respondes?
Formas bizarras ondas mutáveis de tua sombra

Ora és floresta, cerradas matas que escondem luas
São cordilheiras verdes que avisto de minha rua
Ora um penhasco ergue-se agudo na crina espessa
Ou a clausura inatingível das abadessas

São paredões, mastros abruptos que ensinam ilhas
Ou formam asas de aves mouras, raras novilhas
Não te decifro se estás absorta entre a neblina
Ou te distingo clave soturna sobre a colina

És tantos signos de personagens que trocam nomes
Por vezes vestes uma corcunda de Notre Dame
Mas me pareces o altar de um atlas de olhos místicos
Enigmática, guardas a porta do novo Cristo.

Denise Emmer. Assombros & perdidos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011, p.24