Dois poemas de Wladimir Saldanha, do livro inédito, mas no prelo As culpas do poema. Ao contrário de Lúcia Delorme, Dom Filipe e Fabiano Garcia Meireles, que somente existem em minha imaginação, Wladimir Saldanha é poeta e escritor soteropolitano da gema.
JÁ AGORA
Nada mais ecoa
de grito ou jura
e nem mesmo o lavado
visgo foi nódoa.
Verdade,
nem chega mesmo a vinco
essa prega de amor
após o banho desfeita:
já o preito habilidoso
de, juntos, forrarmos a cama,
qual bandeira e vencidos.
Logo, bem logo
já se dispersa
todo o encenar debalde,
e a plateia – gato persa
ou bibelô, não mia
nem aplaude.
Nada prevalece
e catamos no chão
invólucros, rastos.
(E, pulcros, nos sentimos castos.)
O ASSINALADO
Qual visita sanitária, amor,
tu me chegaste
e colocaste veneno em quanto havia
de água empoçada, sob flores.
À tua presença, amor,
a teu gesto carinhoso e profilático,
uma lacraia fugiu
do lúgubre refúgio de um caqueiro.
E tanto menti, dizendo
que não estava, que tinha
pressa pressa e não podia
atender, que
até que atendi: até que a moça
entrou, apresentou-se
e já sem pedir licença
foi marcando, ao sair
– e qual cicatriz de doença –
aquele x na minha porta.