DÉCIMO
PRIMEIRO TEMA SEM JÚBILO
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I
Por que dói essa Casa em tua vida,
e ainda que dela fujas, a inquietude
não pára nunca de permanecer?
e ainda que dela fujas, a inquietude
não pára nunca de permanecer?
Será
porque da Casa não vislumbras
seu recôndito oásis, ou a perda,
por teus olhos, do fogo da morada?
seu recôndito oásis, ou a perda,
por teus olhos, do fogo da morada?
Ou
porque da morada tens a imagem
das suas portas visíveis, e não da alma,
que dança pela Casa e as portas doura?
das suas portas visíveis, e não da alma,
que dança pela Casa e as portas doura?
II
Além
da Casa que alicerces sondas,
que escadas te conduzem na vertigem
que o cansaço do perto leva ao longe?
que escadas te conduzem na vertigem
que o cansaço do perto leva ao longe?
Que
existirá no longe que não haja
em tudo que te habita de mais próximo,
onde quer que se instale a tua Casa?
em tudo que te habita de mais próximo,
onde quer que se instale a tua Casa?
Ou,
depois de instalada, se perturba
teu Sonho, aprisionado nas paredes,
tal se alguma prisão nascesse delas?
teu Sonho, aprisionado nas paredes,
tal se alguma prisão nascesse delas?
III
Que
urdes além do centro da morada,
que nela não esteja, e ardendo nela:
o fora e o dentro, o próximo e o remoto?
que nela não esteja, e ardendo nela:
o fora e o dentro, o próximo e o remoto?
Mas
por que dói a Casa, ainda que saibas
que o verme que a corrói é teu invento,
e a fuga que te move não tem asas?
que o verme que a corrói é teu invento,
e a fuga que te move não tem asas?
Qual
é mais poderoso: o homem ou a Casa,
o homem que se move atrás do mesmo,
ou, sem mover-se, a Casa em sua paz?
o homem que se move atrás do mesmo,
ou, sem mover-se, a Casa em sua paz?
Ângelo Monteiro. Todas as coisas têm língua. Recife: CEPE, 2008, p.305