sexta-feira, 25 de julho de 2014

O VATICÍNIO DA SERPENTE


feitas de rude barro
inúteis são tuas asas
                                 filho do Homem
à Ilha foste condenado
e nada saberás a respeito da Queda

cuidado
querubins sanguinários guarnecem o Paraíso
se muito te aproximares
                                     ao pó volverás
estás imerso em turvas águas
                                   filho do Homem
nada podes divisar
                            senão vultos

aprende o voo-flecha do peixe
e vislumbrarás o eterno


ECLESIASTES II


nadar
desde a madrugada do tempos
nadar
até que o Pescador Implacável
lance a rede sobre o mar


HERMES TRIMEGISTO


as brancas águas do silêncio
dissolveram-me os tímpanos
e meu brado lacerou
o duro tecido dos séculos
restou-me caçar esfinges
por entre miragens no deserto


BLAISE PASCAL


nunca
ninguém
jamais
será escutado

surdo é o grito
dos afogados


***

formiga
afogada
no mar

da lágrima

 ***

xadrez a três

o sopro do vento
derruba reis


Bernardo Souto. Poemas dos livros Teatro de sombras. Recife: Edições Moinhos de Vento, 2011 & Elogio do silêncio. Recife: Ed. do Autor, 2010.