ELISABETE DESCANSANDO NA LUZ
Na sua alma onde Deus começa
e o amor, sendo pleno, é mais que um vício
aceitando a ternura e o desperdício
minha alma na sua alma se completa.
E somos, sendo dois, uma só casa
sabendo às vezes e, às vezes, sem saber
que é só nossa a aventura de morrer
unindo e desunindo as nossas brasas.
Há mapas nessa casa, mapas, ilhas
e à margem de impossíveis horizontes
um verão que inventando maravilhas
em nossa carne canta sem ser fonte.
Por isso a noite em nós nunca é escura
e a nossa nudez é a nossa roupa:
se em seu corpo soletro coisas puras
é porque sei de cor a sua boca.
Casa de mim, constelação de espantos,
mar que soluça em busca do infinito,
nas suas águas, quanto mais morro, canto
e quanto mais canto mais me ressuscito.
Jaci Bezerra. Linha d'água. Recife: CEPE, 2007, p.36