Após longo e tenebroso carnaval, retorno os arquivos implacáveis com Lorena Miranda Cutlak e sua estreia
impressionante com O corpo nulo, Mondrongo, 2015. Tive a honra e o prazer de
acompanhar um período da trajetória de LMC. Escrevi para a quarta capa do seu livro e transcrevo
aqui: “Os poemas deste livro lançam pontes entre os temas e os tempos. Os temas
iterativos da Lírica na peleja franca com a época atual e o supratemporal. A
anulação do corpo acontece depois de enfrentamentos terríveis. Dor que se
desdobra e se transfigura. Não há fugas nem a imanência sufocante da grande
maioria dos poetas contemporâneos. Significativamente o penúltimo poema do
livro é sobre um tema raro e de difícil feitura: a gestação. Porque LMC sabe que ‘não padece o que não veio
à vida.’” Ei-la:
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS
À maneira de João
Condé
Nome: Lorena
Miranda Cutlak.
Onde nasceu e a data: Belém do Pará, 30 de junho de 1988.
É casado (a), tem filhos? Muito
bem casada com Vitor Cutlak. Mãe de uma menininha de 1 ano e 2 meses chamada
Maria.
Altura: 1,64m.
Peso: veja bem, João, eu
pari um ser humano há pouco mais de um ano. Ainda há quilos sobrando por aqui.
Mas o importante é agradar o marido, e ele gosta!
Número dos sapatos: 37.
Prato preferido, bebida e jogo: doces, sempre, de todos os tipos. Já bebi muito destilado puro nessa
vida; hoje em dia, tenho estômago no máximo para um desses drinks enjoativos
que mulheres tomam, seguido de antiácido. Passei cerca de um ano viciada em
xadrez, depois passou completamente.
Gosta de cinema, teatro? Qual prefere? Gosto de ambos, já fui mais assídua, mas se tivesse que salvar um dos
dois naquele dilema do penhasco salvaria o cinema. Porque as melhores
narrativas desse nosso aqui-e-agora estão lá, no cinema. É atualmente a arte
mais eficaz, unindo complexidade a uma linguagem que repercute no público.
Poeta e prosador preferido: parafraseando
Érico Nogueira: deveria dizer Camões e Tolstói, mas digo Bruno Tolentino e Dostoiévski.
Tipo de música e músico preferido: meu tipo de música é Radiohead. O diabo é classificá-lo.
Qual pintor preferido? Não
entendo de pintura. Mas aí vou pelo caminho oposto ao que tomo na música:
quanto mais realista e menos borrado, melhor.
Qual a cor predileta? Vermelho.
Quando escreveu seu primeiro texto? Sei lá. Na escola, provavelmente.
Dos seus livros publicados qual o preferido e por quê? Publiquei somente O Corpo Nulo. Gosto sinceramente dele, ao menos enquanto não me
falta humildade.
Se pudesse recomeçar a vida o que desejaria ser? Eu mesma, com mais juízo e menos preguiça.
Seu principal defeito: preguiça.
Sua principal virtude: senso
de responsabilidade; comprometimento. O que, graças a Deus, me salva das garras
do item anterior.
Coleciona alguma coisa? Louça
suja na pia.
Algum hobby? Hobby é
coisa que se faz frivolamente, assim só por fazer, mas com um gostinho pessoal
todo especial? Então, não.
Uma ou duas grandes emoções em sua vida? Tudo o que diz respeito a minha filha. Impossível selecionar um único
momento.
É crente ou ateu? Católica
reconversa após anos dando murro em ponta de faca.
Três livros que mudaram sua vida ou, se não mudaram, mas tocaram
fundo: só três? As Horas de Katharina, do Tolentino. O idiota, do Dostoiévski. O terceiro pode ser muitos, não consigo
escolher. Talvez a poesia completa do Fernando Pessoa.
Se pudesse escolher como gostaria de morrer? Até antes de me casar, compreendia essa
pergunta de forma puramente egocêntrica: como vai ser PARA MIM o momento da
minha morte? Vai doer? Vou sofrer do lado de lá? Sem o menor resquício de
sentimentalismo e sendo totalmente sincera, hoje afirmo que o que me preocupa
quando penso nesse assunto não é mais como vai ser, mas como vão ficar aqueles
que aqui precisam de mim. Então, respondendo a pergunta: a morte ideal seria
aquela que me levasse antes daqueles que amo, porém sem os deixar desamparados.
Do livro O corpo nulo: