sexta-feira, 22 de julho de 2016

Um poema do livro inédito Auto da Romaria:

O SANTO ANÔNIMO
Para Carlos Calliga 


Molda meu coração, barro insubmisso.
Por mais que se ofereça é sempre fúria,
pois há sombrios poços que diviso,
à beira de mim mesmo, nas funduras.

Molda meu coração, ex-pedregulho,
que percorreu parábolas insanas,
atirando-se contra os próprios urros,
abrindo abismos dentro da garganta.

Molda meu coração, argila impura,
com Tuas mãos de luz, em vaso d’água,
e aprendo a servir feito quem desfruta
um sopro de esperança que se alarga.