segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Do livro inédito Auto da Romaria:

PRIMEIRO ARCO 


Podia ser pior
            e não ter nem nascido.
E desde já eu agradeço
                essa beleza pobre,
o requinte rústico, o calor infernal,
e a ausência de bibliotecas.
                     Se bem pesado,
adquiri um realismo inútil,
bicho que disfarça seus caninos
                                para menos ferir.
                         E de que me serviu o São Francisco?
Imagem num postal,
                           metáfora de rio,
e a fome perigosa dos mergulhos.
Mais de trezentas romarias e esta fé que titubeia
(aí, a culpa é minha).
               E esse menino contínuo, não cede
e, às vezes, extrapola
com ruas poeirentas, caieiras, olarias, campinhos.
Seu excesso de luz que transforma
                                               ou cega,
                                         a depender.
E nem posso tirar daí minhas vergonhas,
alguns amores, que vitórias?, vícios –    
como varrer do coração o coração?