O ex-violinista
As lições desafinadas,
semifusas da memória,
o menino é a nota máxima
na constante palmatória.
Me perdi nas quatro cordas,
tão difíceis semitons,
se o teu dom além transborda,
eu, no entanto, não fui bom;
e rompi cravelha e arco,
e rompi estojo e breu,
o que continua intacto
é o som do que se perdeu.
A madeira volta à árvore?
A queixeira inda
machuca,
esse vibrato mais
árduo
o coração executa.
A mão esquerda teimosa,
a mão direita agradece
uma nota que recorda,
outra que desaparece.
A alma permanece
ali,
sustentando as duas tampas:
na de cima – me prendi,
na de baixo – a dor é tanta!
Nessas décadas comigo,
teu silêncio é fiel.
Se te obriguei, desobrigo,
perdoa, amigo, o labéu.
Nas quatro cordas rezei:
mi – a mais aguda,
o hinário,
sol – a mais grave,
chorei,
– em lá e ré
fui falsário.
As lições desaprendidas,
os dedos estão calados,
o ex-violinista convida
alguns cantos desusados.
Somente os anjos escutam
as músicas do menino –
melodias que não mudam,
quando mudam os violinos.