9.2
Manhã luminosa,
pura, calma, azul!
Solidão da rosa
sob o céu azul.
Livre, aberto, nítido,
tudo que se dar.
Mas, sensato e tímido,
desvias o olhar.
Tudo está maduro
para as tuas mãos.
No entanto, inseguro,
recolhes as mãos.
Pródiga, serena
(nem boa, nem má),
vida clara e plena
— quem a colherá?
Marco
Catalão, Antes de amanhã, LivroPonto,
2008, p.83.
O VÍRUS
Meia-noite. Depois de um dia inteiro
de trabalho árduo, o que eu não
esperava
ocorre: o mouse de repente trava.
Engasgo. Sinto um calafrio ligeiro.
Digo à tela: “Era só o que me
faltava...”
Tento reiniciar. Em vão. Primeiro
com método, depois com desespero,
faço tudo o que posso, mas na oitava
tentativa desisto. Meus suspiros
são inúteis. Perdi de uma só vez
tudo o que tinha feito em mais de um
mês.
A morte é esse dissimulado vírus:
se instala em nosso software, secreta,
e antes que a percebamos nos deleta!
Marco
Catalão, O cânone acidental,É
realizações, 2009, p.49.
Mais do e sobre o poeta aqui: http://apoesiadobrasil.blogspot.com.br/2012/03/marco-catalao-1974.html