Como se o nada
fosse um dom perfeito
habitamos, em
vão, um vago esboço
de onde nos
surge a tela e os seus remorsos —
dois olhos mal
despertos se entreabrindo.
Nada há mais a
dizer — pois tudo é espanto —
mas há
impressões que duram a vida toda.
E, mesmo assim,
vagamos pela noite,
de repente,
cansados de infinito,
habitantes dos
sonhos e das pragas,
nada sabendo
sobre o tempo... Toda
palavra se
renova em seu ofício,
todo verso
vasculha velhas cinzas.
Como quem
redescobre antigas chagas,
olhamo-nos como
quem olha um berço.
Silvério Duque,
A pele de Esaú, Ed. Via Litterarum, 2010, p.27
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