terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


ESTA NOITE
 
Esta noite, em meu sonho (a multidão
ovacionava o rei; um voo de ave
em movimento esdrúxulo; o conclave
dos cardeais de abril e seu jargão),
 
eu estava desperto, e minha mão
procurava no escuro a obscura chave
que abrisse a porta, resolvesse o enclave
(mesmo que não houvesse solução) —
 
e eu era outro, sem sê-lo, nem melhor,
nem eu mesmo, mas outro, mas Alguém,
num janeiro, entre os hunos — e uma flor
 
na lapela do equívoco (que importa?). —
Esta noite, em meu sonho, como quem
se esquiva ou atravessa alguma porta.
 
Renato Suttana. Conversa de espantalhos, Editora Sol Negro, 2012. p.57
 
Livros e poemas de Renato Suttana aqui: http://www.arquivors.com/