ESTA NOITE
Esta noite, em meu sonho (a multidão
ovacionava o rei; um voo de ave
em movimento esdrúxulo; o conclave
dos cardeais de abril e seu jargão),
eu estava desperto, e minha mão
procurava no escuro a obscura
chave
que abrisse a porta, resolvesse o
enclave
(mesmo que não houvesse solução) —
e eu era outro, sem sê-lo, nem
melhor,
nem eu mesmo, mas outro, mas Alguém,
num janeiro, entre os hunos — e
uma flor
na lapela do equívoco (que
importa?). —
Esta noite, em meu sonho, como
quem
se esquiva ou atravessa alguma
porta.
Renato Suttana. Conversa de
espantalhos, Editora Sol Negro,
2012. p.57
Livros e poemas de Renato Suttana
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