O poema de Donizete:
MÃO DE PILÃO
entre o ar
e a dureza
do cedro
no ir
e vir
metódico
matemático
martelado,
anos e anos
em deslize
pelos dedos
dão à mão
de pilão
uma pele lisa
madura
lustrosa
instrumento
que esfarela
o grão
e caleja
a palma
Mundo mudo. São Paulo: Nankin, 2003.
ALMOFARIZ
Antes
das horas gastas na feitura,
antes
que as mãos suem seu sal, cansaço,
com
o suor caírem silêncios, fúrias
–
medite a luz a dilatar seu facho
feito
raiz na escuridão aguda
do
que será minério, veio árduo,
na
terra onde cavamos nossas dúvidas;
perceba:
qualquer menos e é fracasso,
um
sim a mais expõe nossa penúria,
expõe:
antes de ser não ser é fato.
E, na cozinha, minha mãe tritura
tempo
sem par no almofariz de aço. E, na cozinha, minha mãe tritura
Outras ruminações – 75 poetas e a poesia de Donizete Galvão. São Paulo: Dobra Literatura, 2014, p.36