terça-feira, 19 de maio de 2015

balada de um poeta ruim para si mesmo

 

os poemas em sua maioria
são ruins, mas, ainda assim, são poemas.
quando li O Demônio da Teoria

no item do capítulo do tema
O Valor, cujo mote desenrolo
aqui em terza rima, o problema

da oposição entre Dionísio e Apolo,
que antes era vidro, se quebrou.
saquei da minha bolsa a tira-colo

- para enxertar a imagem do Condor
sobrevoando a cordilheira dos Andes
blagueando o romantismo nesse voo - o

dicionário de rima de Fernandes,
porque poetas ruins têm instrumentos
ao alcance da não, se não são grandes

porém dignos de pena seus talentos,
para alcançar talvez notoriedade
o joio travestido de frumento

precisa ao menos de uma habilidade (1)
1. nota: há classes várias de poetas ruins,
não vou dar conta da diversidade

senão restrinjo-me ao que a mim
me diz respeito como poetastro
de uma subclasse de poetas chinfrins.

verbi gratia, há aqueles que se arrastam
em torno de quem estiver no poder
e que entre si se brigam e se desgastam

 tudo fazendo para aparecer.
data venia, me vejo na alimária:
que, embora não despreze o métier,

e seja mau poeta, é de outra subárea:
dos que temos alguma vocação,
não pra poesia, mas pra gambiarra.

escrita a nota,  volto à habilidade:
lançar mão do que está ao seu alcance,
fazer do que é ruim necessidade.

que nisso não bastando, não me canse
de escrever, por dia, uma bobagem,
um haikaizinho metido a romance

no qual um poeta ruim é o personagem
que vive a farsa tão forçosamente
a ponto de tirar disso vantagem.

Alex Simões, 14-05-2015