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São milagres que pretendes?
Religiões? Mas quem foi
que te disse que não é
um milagre a floresta?
É um milagre esta costa
de rochedos escarpados,
e um milagre esta neve
de sombras bruxuleantes,
um milagre o próprio homem,
tu mesmo um milagre és.
Parece-te uma blasfêmia
que o teu sonho sagrado,
teus mágicos sentimentos,
a ciência os explique?
Donde vem o teu tormento?
E a tua dor, donde vem?
A ciência deste mundo
não será maior milagre
do que teu sonho sagrado?
E nem se pode saber
qual milagre é maior:
se a ciência ou o teu sonho...
O nosso poço sem fundo
agora está quase seco:
a ilusão - mesmo explicada -
não será sempre milagre?
Mesmo depois que o explicam,
quem ele é, de onde vem,
o gênio não permanece
sempre envolto em mistério?
Novella Nikoláieva Matvêieva. Poesia soviética. Tradução do russo de Lauro Machado Coelho. 2007, São Paulo: Algol, p.436