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Não, a vida não me negou nada,
não me deixou de dar a minha parte,
de tudo um pouco para eu seguir
meu caminho - luz e calor.
Histórias de que me lembro comovido,
canções da minha terra natal,
velhas festas que os padres oficiam
e festas novas, com música diferente.
Num lugar distante, comovido
pelo milagre universal do dia novo,
velhos invernos embalados pelo canto
do trenó que se afasta bosque adentro.
A primavera súbito irrompendo,
o mar e os rios rugindo à minha porta,
os sapos coaxando lá no pântano,
a resina escorrendo no tronco das árvores.
Tempestades de verão, amoras, cogumelos,
trilhas orvalhadas em meio à relva,
as alegrias e provações do pastor,
lágrimas derramadas pelo livro favorito.
Dor, amargura, desde cedo,
sonhos de vingança infantis,
dias turbulentos na escola,
correr descalço e em trapos por aí.
Um pouco de tudo - até a pobreza
na escuridão da casa de meu pai...
Não, a vida não me negou nada,
nem nada deixou de dar-me em troco.
Aleksandr Trifônovitch Tvardóvski. (1910-1971). Poesia soviética. Tradução Lauro Machado Coelho. São Paulo: Algol, 2007, p.178-179