quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Do livro Auto da Romaria, que, este ano, sairá pela Editora Mondrongo: http://www.mondrongo.com.br/index.php


CANÇÃO DAS MARGENS
Do romeiro Batista


Meu amor por essas margens?
Nem sei onde se alicerça,
mas se eu digo involuntário
a palavra não é esta.
Se eu digo vertigem, fado,
o não dito me atropela.

Vem de longe, vem do alto?
Por si próprio ou chamamento?
Esse amor tem nome claro
no invisível continente;
se algum barco for buscá-lo,
achará todos os ventos.

Continente constelado
de ilhas, naufrágios, idílios,
corsários de uma linhagem
mais velha que os velhos ritos,
cercados do mar alado
– o real é seu exílio.

Rabiscam na praia viva
mensagens lidas nas águas,
ondas sem idade brincam,
levam o que não se apaga,
e desimporta em que língua,
todas as línguas são válidas.