Topografia
do burgo de Olinda à distância de quatro séculos, a partir de um telescópio
montado no campanário da Igreja da Sé, com pedidos de desculpas aos mapas e
teses dos geógrafos, bem como ao teodolito e demais instrumentos de trabalho
dos senhores arquitetos e engenheiros.
É um volume de sonho e luz aberto
nas prateleiras do ar,
aos olhos revelando um mundo
impresso
em água e eternidade, em brisa e
mar.
E encanto antes de tudo, só encanto
para quem a conheça:
e, sobretudo, o medo que esse
encanto
um instante após nascer desapareça.
Evadida do tempo, em nós desliza
e fica, como a lembro,
à flor do mar, dourada pela brisa
e o ouro dos cajueiros de setembro.
Seria, na lembrança, outra paisagem
ao mundo acrescentada,
não fosse o mangue que enferruja a
aragem
na qual, por ser encanto, está
pousada.
Rasurando a memória, se folheio
as lembranças extintas,
evita, silenciosa, os meus receios
e altera o mundo sem que o mundo
sinta.
O sonho extinto em quem, sonhando,
veja
mesmo extinto não finda
que o olhar sonha quando a lembra,
acesa,
e quando a esquece sonha mais ainda.
Jaci
Bezerra. Linha d’água, 2007. Cia
Editora de Pernambuco.