sexta-feira, 15 de março de 2013


Topografia do burgo de Olinda à distância de quatro séculos, a partir de um telescópio montado no campanário da Igreja da Sé, com pedidos de desculpas aos mapas e teses dos geógrafos, bem como ao teodolito e demais instrumentos de trabalho dos senhores arquitetos e engenheiros. 
 
É um volume de sonho e luz aberto
nas prateleiras do ar,
aos olhos revelando um mundo impresso
em água e eternidade, em brisa e mar.
 
E encanto antes de tudo, só encanto
para quem a conheça:
e, sobretudo, o medo que esse encanto
um instante após nascer desapareça.
 
Evadida do tempo, em nós desliza
e fica, como a lembro,
à flor do mar, dourada pela brisa
e o ouro dos cajueiros de setembro.
 
Seria, na lembrança, outra paisagem
ao mundo acrescentada,
não fosse o mangue que enferruja a aragem
na qual, por ser encanto, está pousada.
 
Rasurando a memória, se folheio
as lembranças extintas,
evita, silenciosa, os meus receios
e altera o mundo sem que o mundo sinta.
 
O sonho extinto em quem, sonhando, veja
mesmo extinto não finda
que o olhar sonha quando a lembra, acesa,
e quando a esquece sonha mais ainda.
 
Jaci Bezerra. Linha d’água, 2007. Cia Editora de Pernambuco.