6 DE AGOSTO
Para Person
Ramos de Araújo
Não
repare no caudal
que
transborda de outras épocas,
nas
multidões que deslizam,
misturando
tantas cepas,
que
acompanham o andor
em
romaria sem pressa.
Não
ouça o coro de vozes:
rogo,
súplicas, lamentos,
murmúrio
só confessado
nesses
corações adentro
–
luxúria, orgulho, inveja,
pecados
envelhecendo.
Não
repare os pés descalços,
penitências,
sacrifícios,
o
corpo vencido em lágrimas,
o
sofrimento castiço,
a
devoção sem palavras,
não
repare em nada disso.
Mas
guarde um quadro completo
do
caudal sem calendário,
apesar
do mês de agosto
ter
o seu dia esperado.
Quem
espera sempre alcança,
verá
que não mente o adágio.
Mais
do que os olhos levante
seu
espírito bem alto,
acima
desses rumores,
de
tudo que for boato,
do
que é matéria palpável,
mas
está além do tato.
Movido
por esse olhar,
acima
do andor repare,
enquanto
o caudal se escoa
pelas
ruas da cidade
–
se o tempo fica suspenso,
o
espaço também se abre:
agora,
tudo é silêncio,
conexão
de contrários,
parte
do céu se derrama,
da
terra sobe uma parte,
pela
coluna que ata
nesse
momento os cenários.