Repassar a obra do poeta, tradutor e ensaísta Wladimir Saldanha é uma alegria. Nos seus três títulos publicados –
Culpe o vento, 2014, ed. 7Letras, Lume Cardume Chama, de 2014, ed.
7Letras, e Cacau inventado, 2015, ed.
Mondrongo –, o lirismo em língua portuguesa segue enriquecido. Seja no poema
curto, no de fôlego considerável, na densidade lírica, ou espraiamento
narrativo, WS realiza todos admiravelmente.
Sou um entusiasta do seu trabalho. Duvida, leitor incrédulo? Comece pelos poemas
abaixo desta postagem e procure os seus livros. O poeta despacha aqui: http://wladimirsaldanha.blogspot.com.br/ Outra alegria é ouvir alguns dos seus poemas musicados pelo caro amigo Sócrates Rocha* (Sim! Vem disco por aí).
*Quem quiser conferir o
último disco do compositor lapense, escute-o aqui:
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS
À maneira de João Condé
Nome:
Wladimir Saldanha dos Santos, que se prefere apenas
Wladimir Saldanha.
Onde nasceu e a data:
Salvador, Bahia, 07 de novembro de 1977.
É casado (a), tem filhos?
Casado, sem filhos.
Altura: 1,80m
Peso: 95kg
Número dos sapatos: 41
Prato preferido, bebida e jogo:
Prato: polvo, de
preferência aferventado, como nas casas de pescador, ou no modo ibérico, “à
lagareiro” (azeite quente e alho).
Bebida: vinho.
Jogo: nenhum, nunca tive
paciência nem atenção suficientes. Aprendi alguns, achei que gostava de xadrez,
mas, depois do básico, vi que não.
Gosta de cinema, teatro, quais prefere?
Não frequento nenhum dos dois. Quando gostava de ambos,
preferia teatro. Tenho alguns filmes de predileção, mas acho que não guardei de
qualquer deles memória tão grata como de algumas peças. Em Salvador, porém,
tenho evitado sair à noite: é dangerosíssimo. Sempre gostei de ler teatro.
Poeta e prosador preferido:
difícil! Por razões que ultrapassam as de leitor, sinto-me muito marcado
pelo fato de ter tido algum diálogo, embora rápido, com Bruno Tolentino, e
outro, bem mais longo e mais próximo, com Lêdo Ivo.Os dois poetas se fundem num
coquetel molotov lírico-discursivo-anticoncretista-transcendente.
Lygia Fagundes Telles é minha prosadora preferida, sobretudo a contista.
Tipo de música e músico preferido:
desde o “tango brasileiro” de Nazareth até as gerações pós-bossa nova,
gosto do que se convencionou chamar MPB. Prefiro vozes femininas e agudas.
Também gosto muito de sonatas para piano e peças para violoncelo, para mim o
mais belo som instrumental.
Sem compará-lo com os grandes da música erudita, meu músico preferido é
Tom Jobim. Na erudita, ando há um tempo encantado com Debussy, aliás o
compositor predileto do próprio Jobim.
Qual pintor preferido?
O nosso José Pancetti me encanta. Mas é difícil saber se o prefiro, quando
penso nos impressionistas franceses, ou quando me lembro de uma “noite
estrelada” de Van Gogh.
Qual a cor predileta?
Cinza, desde criança.
Quando escreveu seu primeiro texto?
Em torno dos 9 anos, invejando certo Jorge de Lima, que escrevera seus
primeiros poemas aos sete, como eu havia lido numa antologia que tínhamos em
casa, da José Olympio.
Dos seus livros publicados qual o preferido e por quê?
Culpe o vento, pois é a matriz dos outros dois e do que continua a
ocorrer, na minha gaveta e na minha cabeça. Receio que será a matriz de tudo o
que eu puder fazer.
Se pudesse recomeçar a vida o que desejaria ser?
Nunca tive outro sonho além da literatura. Apenas gostaria de ter tido
menos entraves, sobretudo materiais.
Seu principal defeito:
dizem que é rancor, mas eu acho que é uma saída direta da mágoa à
indiferença. “Rancor” é nome impróprio para essa abulia contínua, segura,
calada, algo estranha ao nosso povo de grandes expansões. Há um poema de
Sully-Prudhomme sobre um vaso de verbenas que trinca, e a rachadura vai
silenciosamente dando a volta completa: “Le vase brisé”. Quando entendi que não
era rancor, deixei de me cobrar. Arrisco: levasebriseidade.
Sua principal virtude:
de mim para mim, creio que é a perseverança. Para os outros, provavelmente
a lealdade, o que pode ser o mesmo.
Coleciona alguma coisa?
Não, o colecionismo exige paciência, escaninhos, catalogações. Sou incapaz
disso! Tenho búzios, seixos de praia e pedras não preciosas polidas, mas é tudo
bem caótico.
Algum hobby?
Participar do mundo de meus meus gatos, passear com minha cadela; banhos
de mar.
Uma ou duas grandes emoções em sua vida?
Ter visto o Rio de Janeiro na perspectiva do mar, aos 11 anos, embarcado
no navio em que trabalhava meu avô. Ter visto um espontâneo balé de golfinhos
em Fernando de Noronha, com minha esposa. Na primeira vez, tive a percepção de
grandeza, de potestade, com aquelas montanhas rochosas brotadas do mar. Na
segunda vez, experimentei o que é “chorar de alegria”, coisa sublime,
infelizmente vulgarizada pela televisão brasileira.
É crente ou ateu?
Crente. Essa palavra contaminou-se desde Condé até
hoje... Tenho uma fé cristã. O menino de colégio de freiras é também fruto de
um ambiente muito sincrético; ainda busco um pouso, mas já desconfio que a
errância nesse campo seja também algo meu, que toca em minha relação com a
poesia.
Três livros que mudaram sua vida ou, se não mudaram, mas
tocaram fundo:
Os doze trabalhos de Hércules, de Lobato, como outros do “Sítio”, que me
tornaram um leitor.
Os velhos marinheiros, de Jorge Amado, que operou um salto perceptivo.
A rosa do povo, de Drummond, que foi minha cartilha surrada, anotada,
emulada.
Se pudesse escolher como gostaria de morrer?
Sei que há mortes terríveis, e bem piores do que essa que vou dizer, mas
eu realmente só pediria a Deus para não morrer em queda livre: detesto a ideia.
Do livro Culpe o vento:
Do livro Lume Cardume Chama:
Do livro Cacau inventado: