domingo, 30 de março de 2014


INFLUÊNCIA DAS VOZES 
 

Nunca fiz um poema limpo
como o avental de minha mãe:
sempre os outros e o pó dos Outros
puseram em mim sua presença. 

Como na infância, há sempre um vulto
emergido de algum silêncio.
Para ajudar-me a escrever,
vem segurar na minha mão. 

Mas rasgo tudo, rasgo o que amo
e vejo tudo realizado
nas outras mãos, enquanto fico
desconfiado de minha força. 

Às vezes mostro a meus amigos
estas flores, peço-lhes água.
eles sorriem, são meus amigos,
mas também estão no deserto. 

Já não preciso ser autêntico:
sobre uma só realidade
eis-me na terra como os outros,
sou os outros, e morro só.
 
Alberto da Cunha Melo. O cão de olhos amarelos. São Paulo: A Girafa, 2006, p. 254.

 

sábado, 29 de março de 2014

Novo poema n'O camponês, com a generosidade de Sergio de Souza. Aqui: http://www.ocampones.com/?p=11094

Parece que no cabe
en el pecho. Tan grande
tan hermoso, que el pecho
es chico. Y nada importa.
¿De quiém serán los árboles,
de quién los ríos, los cielos
sino de aquel que ama?
Miradle los caminos,
alta frente, la luz
sobre la frente, el paso
sobre las aguas sin roce,
la palabra purísima,
el fuego limpio. Tiemble
la Enemiga. Dejadlos
en su dicha. Se hicieron
los árboles, las nubes,
las aguas, los senderos
pacíficos, los céspedes
bajo la sombra, el irse
en la paz, para ellos.
Dejadlos, los amantes. 

José Antonio Muñoz Rojas, Obra completa en verso. Madrid: Pre-Textos, 2008, p.168.