domingo, 31 de julho de 2016

AGOSTO, É SEMPRE AGOSTO



Agosto, é sempre agosto quando morro,
e doer é um sol que não tem sombra,
clareza negativa sobre as ondas,
que não cabem nas dobras do meu corpo.

Deitado nas areias do que sofro,
o que não digo soa como afronta – 
num dos lados do ser o ser é contra,
e as praias afogadas sem socorro.

Na margem, do outro lado, escuto rogos,
já não sabem Quem é que lhes responda,
e o abismo das vozes se prolonga.
Agosto, é sempre agosto quando morro.


terça-feira, 26 de julho de 2016

O LADRÃO DE VERSOS

Uma gargalhada de meu filho
rouba-me um verso. Era,
se não erro, um verso largo,
enxuto e musical. Era bom
e certeiro, acreditem, esse verso
arisco e difícil, que se soltara
dentro de mim. Mas meu filho
riu e o verso despenhou-se no cristal
ingênuo e fresco desse riso. Meu Deus,
troco todos os meus versos
mais perfeitos pelo riso antigo
e verdadeiro do meu filho.

Rui Knopfli. Antologia poética. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p.82

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Um poema do livro inédito Auto da Romaria:

O SANTO ANÔNIMO
Para Carlos Calliga 


Molda meu coração, barro insubmisso.
Por mais que se ofereça é sempre fúria,
pois há sombrios poços que diviso,
à beira de mim mesmo, nas funduras.

Molda meu coração, ex-pedregulho,
que percorreu parábolas insanas,
atirando-se contra os próprios urros,
abrindo abismos dentro da garganta.

Molda meu coração, argila impura,
com Tuas mãos de luz, em vaso d’água,
e aprendo a servir feito quem desfruta
um sopro de esperança que se alarga.  

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Agora, a versão com orquestra que saiu na novela Velho Chico, da Globo.
Música de Paulo Araújo com letra minha. Voz de Paulo Araújo.