quarta-feira, 18 de junho de 2014


QUARTO TEMA SEM JÚBILO



Uma angústia desnuda entre os pinheiros,
procura a sua pátria: mas que encontra,
sob a lua quebrada, senão névoas?

Há um frio que não dorme nessa espera
de braços arrancados: por que tentam,
mesmo presos ao chão, furar os ares?

Por que, se não são livres, se condenam
a suportar o hálito dos anjos
e, nos nervos, crispada a Voz irmã?

Por que o horizonte empanam mais que a névoa,
se o não podem violar? E se esse frio
lhes murchou as capelas invioladas?

Senão porque uma voz lhes fala em vida,
mesmo quando longínqua? E a voz do encontro,
quem sobre e sob a terra calará?

Se ela, a Irmã, a mais próxima do sangue,
em seu colo de espera traz amarras
que são ainda mais firmes que as do chão?

Por que a angústia desnuda entre os pinheiros
procura a sua pátria, e além da lua,
não vê que a pátria está chorando névoas?

Ângelo Monteiro. Todas as coisas têm língua. Recife: CEPE, 2008, p.299

terça-feira, 10 de junho de 2014

NOSTALGIAS AMAZÓNICAS


Quién fuera un yanomani:
desnudo e inocente, viviría
fuera de calendarios y mentiras,
en paz con los vecinos y las lluvias,
los dioces y mi cuerpo. Mis únicas costumbres
serían los espesos follajes goteantes
traspasados por cantos de colores vivísimos
rápidos como flechas.
No envidiaría, no consumiría,
nadie me robaría. En una estera
tejida con cortezas
fecundaría a mi fiel india bajo
la mirada propicia de los astros.

Pero -nada es perfecto- ninguna de esas cosas
tendría para mí el menor atractivo. 

22-IV-88

Miguel d'Ors. El misterio de la felicidad. Sevilla: Renacimiento, 2009, p.126