sexta-feira, 30 de outubro de 2015

NITIDEZ SUBMERSA 



Nos sapatos confortáveis
um pouco velhos e gastos
a fuligem das cidades
redesenha o seu mapa.

Não me venham com saudades,
sombras, vultos e fantasmas,
o peso e a profundidade
das coisas não nos sufocam.

Dos caminhos caminhados
— avenidas, becos, praças —
multidões tumultuosas
na fuligem dos sapatos.

Pó do mundo respirado
em seu tédio corrosivo,
não escapam os voos altos
das naves mais arrojadas.

Na verdade, nada escapa.
É preciso a cada istmo
contra essa névoa cegante
renovar o gesto limpo,

porém não lave os sapatos,
não porque registre tantos
itinerários, andanças,
mil labirintos urbanos, a

fuligem aí pousada,
cartografia amorosa,
indica veios, filões
dessa nitidez submersa.

Alargue as tuas pupilas:
paciência ao inspecionar
cada trecho dessas nódoas;
nos interstícios, estrias,

nas grafias do diáfano,
se entrevê pela fuligem
a clara sustentação
dos fios frágeis do mundo. 


***


NITIDEZ SUMERGIDA


En confortables zapatos
algo viejos y gastados
el hollín de la ciudad
dibuja otra vez su mapa.

No me vengan con nostalgias,
sombras, cuerpos y fantasmas,
la profundidad y el peso
de las cosas no me ahogan.

De las sendas caminadas
―avenidas, calles, plazas―
multitudes tumultuosas
en el hollín del calzado.

Polvo del mundo aspirado
en su tedio corrosivo,
no escapan los altos vuelos
del barco más arrojado.

En verdad, nada se escapa.
Es necesario a cada istmo
contra esa niebla que ciega
renovar el gesto limpio,

mas no laves los zapatos,
no porque registra tantos
itinerarios, andanzas,
mil laberintos urbanos,

el hollín ahí alojado,
cartografía amorosa,
indica venas, filones
de nitidez sumergida.

Dilata ya tus pupilas:
paciencia al inspeccionar
cada tramo de esas manchas;
en intersticios, estrías,

en los trazos de lo diáfano,
se ve a través del hollín
la claridad que sustenta
la frágil trama del mundo.

Versiones de Laura Cabezas y Ricardo H. Herrera.



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ya está saliendo de imprenta y será presentado el cinco de noviembre el nuevo número (el ¡32!) de 
HABLAR DE POESÍA.


300 páginas que incluyen desde Ovidio (una extraordinaria traducción de el episodio de Narciso en "Las Metamorfosis") hasta críticas de libros recientes de la poesía argentina. Y también: Octavio Paz, Eliot, Dante, Pessoa y mil etcéteras...

Les compartimos el sumario:

SUMARIO

Ricardo H. Herrera
Hablar de poesía

FIGURAS

Osvaldo Bazil :
Cómo era Darío
Ricardo H. Herrera:
Ricardo E. Molinari
o la aventura del sentimiento
Jason Wilson:
La vigencia de Octavio Paz
Valeria Melchiorre:
Como en filmina una dicha:
La poesía de Arturo Carrera
Mariano Shifman:
Oscar Corbacho en sus poemas

TEMAS

T. S. Eliot:
Lo que Dante significa para mí
Enrico Testa:
La culpa de quien queda.
Poesía y estructuras antropológicas
Alejandro Crotto:
Forma y poesía
Carlos Rey:
Alberto Caeiro
y la imposibilidad de la poesía

POESÍAS

Alejandro Nicotra:
Tres poemas
Rodolfo Alonso:
Poemas al gusto del día
Ramón Minieri:
la escuela de las aves
Celia Caturelli:
meditaciones entre grietas
Pablo Caramelo:
notas frente a una puerta desvanecida
Gabriel Gómez Saavedra:
Música de Tucumán
Pablo Gungolo:
holywood en la provincia de buenos aires

VERSIONES
Ovidio: “Eco y Narciso” (Metamorfosis, III, 318-510)
Prólogo y versión de Alejandro Bekes
Rose Ausländer: 18 poemas
Prólogo y versiones de Celia Caturelli
João Filho: la Dimensión Necesaria
Nota preliminar de Wladimir Saldanha

Versiones de Laura Cabezas y Ricardo H. Herrera

CRÍTICAS
Cecilia Romana:
Al final, volviendo
(Reseña de Vista atrás de Rodolfo Godino)
Ricardo H. Herrera:
La fuente y la derrota
(Reseña de Virgen de proa de Alejandro Bekes)
Carlos Battilana
Recuerdos del forastero
(Reseña de América de Horacio Zabaljáuregui)
Bernardo Schiavetta:
Experimentación poética
(Reseña de Hýpnos de Fernando Ilucik)
Ricardo H. Herrera:
Los desbandes de la morfología
(Reseña de Escorial de Gabriel Gómez Saavedra)
Cecilia Romana:
La casa de la sangre abandonada
(Reseña de Los poemas de Middleburry de Denise León)

Narciso - Caravaggio. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

LÚCIA DELORME LENDO DOM FILIPE 



“Meu amor por essas margens?
Nem sei onde se alicerça,
mas se eu digo involuntário
a palavra não é essa.
Se eu digo vertigem, fado,
o não dito me atropela.

Vem de longe, vem do alto?
Por si próprio ou chamamento?
Esse amor tem nome claro
no invisível continente,
se algum barco for buscá-lo,
achará todos os ventos.

Continente constelado
de ilhas, naufrágios, idílios,
corsários de uma linhagem
mais velha que os velhos ritos,
cercados do mar alado
– o real é seu exílio.

Rabiscam na praia viva
mensagens lidas nas águas,
ondas sem idade brincam,
levam o que não se apaga,
e desimporta em que língua,
todas as línguas são válidas.” 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Mujer música


Yo pretendí prenderla en sólo un gesto 
que fuese inmaterial, también tangible.  
Lo intenté con un libro —el sueño abierto 
y tenso, atento al sol de lo invisible. 

Busqué cosas menores, más modesto: 
una mañana urbana y luz posible.  
Todo fue inútil: mi deseo abierto 
y oscuro y siendo, en cambio, ella tangible, 

el cuerpo albo, desnudo, aquí, en la tarde... 
Ahora me concentro en no fijarla 
en pauta o pensamiento para darle 

el ritmo necesario del que calla.  
La música la envuelve sin alarde 
mientras ella camina por la sala.



Joâo Filho. En A Dimensão Necessária, Ed. Mondrongo, Ilhéus-Bahia, 2014. Versión de 
Enrique García-Máiquez http://egmaiquez.blogspot.com.br/ 


3 Uma mulher toda música
  

Eu pretendi colhê-la num só gesto,
que fosse imaterial, também tangível,
tentei a forma livro, o sonho aberto,
estive atento ao peso do invisível.

Busquei coisas menores, mais modesto,
— uma manhã urbana, a luz possível.
Tudo inútil, desejo o cerne e aperto
o escuro, mesmo sendo tão legível

o corpo branco, nu, dentro da tarde.
Agora me concentro em não fixá-la
em pauta ou pensamento para dar-lhe

o ritmo necessário de quem cala,
a música a envolvê-la sem alarde
enquanto ela caminha pela sala. 

2007

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Quatro poemas do inédito Raízes aéreas & outros voos.  

7 – 


Branco de nuvem
bastasse

Gota neste plexo
nutrisse

Luz de pólen
acendesse   

Que essa escassez
antiavara, 

síntese que amplia,
translumbrasse-nos

11 –
Para Claudius Portugal
  

Interessa-me Absurda
tudo o que tocas:
cristal ou saliva
e a natureza gasosa
do que inominável
te aproximas
em tuas
alucinadas formas

24 –
Anjo


Tão diáfana
esta noite
que um Deles
descuidado
esqueceu-se
visível
sobre a estante

eriçados em susto
nos contemplamos

que sentido secreto?
que elucidação total?
onde origem-além?

desperguntamos


40 –
   


as fragilidades sustentam o mundo

o menos que frêmito
entre o ser
e o seu fracasso

o sol é um ponto de luz
no olho do canário

a amêndoa ao cair
equilibra o espaço