sexta-feira, 8 de abril de 2016

DEZ ANOS


Todos os meus poemas de amor são para Alessandra. Todos. Foi numa tarde, em oito de abril de 2006, num quarto e sala, no Canela, em Salvador, que eu reencontrei minha infância na moça branca, enquanto ela cantava uma música de quando eu era menino. Mas eu não sei dançar. Meu ritmo é outro, e é com ele que danço com Alessandra. Já dançamos inúmeros compassos, dores profundas e alegrias tremendas. Ela é o meu Anjo da Guarda em forma feminina. Cada verso, meu amor, foi uma tentativa de dizer – eu te amo. 


LUZ IMPRESSA


Cada fio de luz que te sustenta
e te arrebata aos céus das coisas vivas
espelha uma esperança que me criva
e segundo a segundo é mais sedenta:

revê-la na moldura que te isenta
do que fugindo o tempo não arquiva,
do que ficando é falsa tentativa
de qualquer duração por mais atenta.

Revê-la como agora – luz impressa.
Amando sem saber, sabendo mudo, 
pois quem ama ao eterno se endereça:

esse lugar, já sem moldura, estudo e
peço a Deus e te peço: – a Ele peça – 
na outra vida, nós dois, depois de tudo.



  APRENDER PELAS ARESTAS 


Amar o que no corpo é inconstância
– a árdua aprendizagem das arestas;
o que fica depois que nada canta,
ou canta numa clave mais modesta.

Depois dessas esplêndidas guirlandas,
que o corpo nos enreda numa festa;
a dança começada após a dança;
além da cama, o corpo sem promessa.

A luz envelhecendo em Alessandra,
presença que não cessa quando cessa;
amar o que no corpo também cansa,
o que depois do corpo ainda resta.  



          OUTRA CADÊNCIA 


Como um corpo ilumina o outro corpo
e o faz, além do nome, ser presença,
respiro ser real sob o seu lastro,
a solidão da dor já não dementa.

Tocar a face das manhãs do mundo:
o espaço existe quando você entra,
as coisas são mais coisas existindo,
e a vida por mais vida se concentra.

Mas quando a noite amarga nos meus olhos,
quando a pele da hora se apequena,
e a sombra em agudeza fere a dor,
afirmo, além do corpo, outra cadência. 


                  O ROSTO 


A luz do rosto vive por si mesma,
e faz do corpo um sólido satélite,
em torno dele se espirala em prece
o meu olhar cativo da clareza.

No rosto de Alessandra a luz procede
como a tarde nas copas da alameda –
o que perde em clarão ganha em leveza,
e por mais que se esconda, transparece.

A luz do rosto pesa as suas perdas,
mas não permite que a tristeza o enrede;
aninha no meu olho e o amadurece,
é chama que modela a sua presa.