sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Um poema de Baldomero Fernández Moreno. Mais poemas do grande argentino, aqui: http://amediavoz.com/fernandez.htm e aqui: http://www.poesi.as/Baldomero_Fernandez_Moreno.htm 
Quem desejar conhecer um pouco da vida e obra do poeta, não deixe de ver o blog de Pablo Anadónhttp://eltrabajodelashoras.blogspot.com.br/search?q=Baldomero+Fern%C3%A1ndez+Moreno 



O PROTELADO
       Friedt fala

De repente, feito breve chicotada,
meu nome, Friedt, estalou na aula.
Eu me pus de pé, e um pouco trêmulo
avancei pra mesa, entre as carteiras.
Era o último exame do curso,
e o que eu tinha mais medo: a gramática.
Fiz girar, decidido, o tal globo,
as dezesseis bolinhas do programa
nele ressoaram mortalmente
e um eco levantou-se em minha alma.
Extraí dois: advérbio e substantivo.

Deram-me pra escolher uma das duas
e escolhi a segunda. – O que é o nome? –
disse-me um tal e me olhou na cara.
Senti logo um suor por todo o corpo,
a boca ficou seca, bem amarga,
e compreendi, com um terror crescente,
que do nome eu não sabia nada.
Remexi a memória, mas em vão,
fiquei, em absoluto, sem palavras.

E comecei a ver a casa em que morávamos:
o caminho de areia, certa planta,
meu irmão pequeno, meu cãozinho,
o chá com leite, o doce de laranja,
que alegria brincar naquelas horas!
E sorria enquanto recordava.
– Senhor, senhor! – rugiu a voz terrível,
– o nome substantivo é batata!
Voltei à realidade: sobre a mesa
os dedos de um senhor tamborilavam,
tranquilamente cochilava um outro,
o terceiro bebia de uma chávena.

Estava muito quente. Eu tenho uma
cara redonda, ingênua, avermelhada,
olhos tristes, os lábios carnudos,
cabelos loiros, franca a risada.
Eu queria brincar, não fazer uma prova,
e fazê-la outro dia, até de madrugada.

Escureceu-me a vista de repente,
os professores já me desdenhavam,
o globo adquiriu proporções
gigantescas, fantásticas,
ouvi como entre sonhos: ó, senhor,
pode sentar-se... – E chorei mil lágrimas. 


UN APLAZADO
        Habla Friedt


De pronto, como un breve latigazo,
mi nombre, Friedt, estalló en el aula.
Yo me puse de pie, y un poco trémulo
avancé hacia la mesa, entre las bancas.
Era el examen último del curso
y al que tenía más miedo: la gramática.
Hice girar resuelto el bolillero
Las dieciséis bolillas del programa
resonaron en él lúgubremente
y un eco levantaron en mi alma.
Extraje dos: adverbio y sustantivo.

Me dieron a elegir una de ambas
y elegí la segunda. —¿Y qué es el nombre?
díjome uno y me asestó las gafas.
Sentí luego un sudor por todo el cuerpo,
se me puso la boca seca, amarga,
y comprendí, con un terror creciente
que yo del nombre no sabía nada.
Revolvía allá adentro, pero en vano,
me quedé en absoluto sin palabras.

Y empecé a ver la quinta en qué vivíamos:
el camino de arena, cierta planta,
el hermano pequeño, mi perrito,
el té con leche, el dulce de naranja,
¡qué alegría jugar a aquellas horas!
Y sonreía mientras recordaba.
—¡Pero señor —rugió una voz terrible—,
el nombre sustantivo, una pavada!—
Tiré a la realidad: sobre la mesa
los dedos de un señor tamborileaban,
cabeceaba blandamente el otro,
el tercero bebía de una taza.

Hacía gran calor. Yo tengo una
cara redonda, simple, colorada,
los ojos grises y los labios gruesos,
el pelo rubio, la sonrisa clara.
Yo quería jugar, no dar examen
darlo otro día, sí, por la mañana...

Se me nubló la vista de repente,
los profesores se me borroneaban,
adquirió el bolillero proporciones
gigantescas, fantásticas,
oí como entre sueños: Señor mío,
puede sentarse... —Y me llené de lágrimas.