sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

BARRA DE SÃO MIGUEL



O Mal é do outro
lado. O vulto de espuma
é a asa do Anjo

em pugna.
A noite
parece dissolver a Barra

e o voo do Anjo
solta umas plumas
de guardanapos.

Pede o menino
de brincadeira
que a mãe o enterre

ali na areia...
O infanticídio
é do outro lado:

atrás da Barra,
em Petrolina,
onde a menina

morre à peixeira.
Daqui até
ali no Gunga

é essa pugna
de que só vemos
asa de espuma.

Nem há borralho
de caetés;
na água límpida,

saber-se humano
é ser ufano
de ver os pés.

Wladimir Saldanhahttp://quinzedoze.blogspot.com.br/

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CONTUMÁCIA



Maldita a vida me seja, 
três vezes maldita seja 
a vida que me desastra 
e que por ser-me finita, 
três vezes seja maldita 
e amaldiçoada madrasta.

Quem me fez como um qualquer, 
dormindo aonde estiver, 
saiba deste desprazer, 
para sempre e desde saiba, 
para que o seu Ser não caiba 
na pequenez do meu ser,

que eu não pedi para estar 
com minhas pernas no andar, 
com minha emoção a sentir 
este universo que tapa 
a minha boca num tapa 
e a minha língua sem Ti,

essa coisa que fede a iodo, 
como a água do mar ou do 
envelhecimento o rim, 
essa coisa que derrama 
seu púbis velho de chama 
a extinguir-se quase ao fim,

corpo de Deus! Corpus Christi! 
Viste-O algum dia? Tu O viste 
sequer um dia como tu? 
Integral e à dor exposto, 
desde o cio ao suor do rosto, 
desde impotente até nu?

Os meus membros são crepúsculos! 
São sangue e iodo os meus músculos, 
é iodo e sangue a minha cruz. 
Por que não nasci não sendo? 
Por que, ao amanhecer, acendo, 
noutra treva, cega luz?


Se além da terra existe ar, 
se além da terra ainda há 
por menor que seja, um seja, 
como à noite volta o dia, 
como, ao corpo, o que o procria, 
como, em mim, meu ser esteja!

Dentro ou fora, qual gaveta, 
para que, em mim, o ser meta 
quem, em mim, é este meu ser, 
olho, em volta, à minha volta, 
e olho nada — só o que solta 
de qualquer um: quem ou o quê?

Nada é, pois tudo se sonha. 
E se alguém me falar: ponha 
tudo o que lhe resta, e resta 
no que, ao pôr-se, se me põe, 
para que em mim meu ser sonhe, 
vivo morto — e a morte empesta!

Como dar à vida pôde 
o nada ser que sou de 
outro feito pelo ser?
De outro ser, igual a mim,
mas de outro início a outro fim, 
noutra vida até morrer?

Ó envelhecer do meu estar! 
Da leitura de Balzac, 
de La Comédie Humaine, 
se passaram tantos anos 
nos malogros desenganos, 
sem disfarce ou mise-en-scène.

Bela Eugénie Grandet:
sois lembrança a anoitecer 
pelas tardes do meu Carmo, 
quem me traz a quem não sou 
na usura do pai Goriot 
que me a mim dá, para dar-mo

no meu duplo a ser mais dois, 
quais búfalos que são bois, 
ao mar meu a ser mais mar de 
ontem que ao ser-te, alma, foi-te, 
nas noites que são mais noite, 
nas tardes que são sem tarde.


Só me lembro das andorinhas, 
que hoje são luas-vinhas 
que iam e vinham às seis, 
só me lembro das sequazes 
na imprecisão de alguns quases, 
na distância de vocês!

Locador de um condomínio 
frustrador de um hímen híneo, 
frustrador de um hímem são, 
locador que loca um louco, 
de carne e ossos sou reboco 
deste barro em maldição.

Tudo é farsa, menos dor. 
Sou, em mim, o que me sou 
desde o ventre que me fez. 
E contemplo a arraia, e raia 
dela, como de uma praia, 
a noite toda. Ei-la aqui. Eis:

andaime, sucata, ferro, 
vagido, vagina e berro, 
viatura e papelório, 
passa tudo, e é a viatura 
conduzindo à sepultura
meu ser morto. E sem velório.

Pois viu a terra e além bebeu-a, 
pois viu o tempo e disse: é meu, à 
solidão cerzindo a roupa 
onde, se me dispo, visto 
o sexo nu de algum Cristo 
que, despido, não me poupa.

Dez anos de coito cego 
são as metáforas que lego 
à solitária da escrita, 
aonde não chega ninguém 
exceto o vazio que vem 
de uma montanha infinita.
 

Róseas ruas da memória, 
róseas ruas hoje escória 
que a soçobrar mais me sobe, 
afundai-me na lembrança 
hoje cravos da criança 
que meu cadáver descobre.

Como, à noite, acendo a lâmpada, 
para imitar (rampa da 
noite) uma inútil manhã, 
como o como que mais como, 
assumo, na idéia, o pomo 
da primitiva maçã.

Assumo o dia original.
Nascimento à morte igual, 
nascimento em morte assumo 
nesta página onde, em branco, 
minha vida inteira arranco 
do nada em que subi. E sumo.

E sumo a sós. Mas prossigo:
na idéia é bem maior o trigo
que na boca o próprio pão, 
na idéia janto a sós, comigo, 
o pão real que mastigo 
feito de imaginação.

Azul manhã em contumácia! 
Negra noite, azul, te amasse 
a idéia sem pensamento, 
te amasse a própria Idéia 
reduzida a uma hiléia 
sem ar, floresta, rio, vento.

Ao ouvir da tarde: fracasso!, 
conquanto, vergando, os braços 
dissessem: pára, enfim finda! 
e morre, ó alma desgraçada, 
eu ousei retornar do nada, 
ousei retornar ainda.

Abandona, ó rei, abandona 
o abono de qualquer cona 
além do sangue e da queixa. 
Cerca a tua casa e a mura 
com o suor da tua estatura, 
e deixa o remorso, deixa-o!

Senhor do teu sofrimento, 
vai-te com o diabo e o vento, 
vai-te com a noite e o monte. 
E fala, ainda que mudo, 
que, do nada, igual a tudo, 
sobre ambos nasces. E põe-te!

Elimina todo se
da pretensão de existir 
na existência que é demérito, 
e no não haver nascido 
elimina-te existido, 
elimina-te pretérito!

Eliminar o talvez.
Não saber dia, hora ou mês, 
não saber até o minuto 
em que me vim sendo feito 
plantando a morte no peito 
e o espinhaço no meu fruto.

Por que o vermeversoverbo
da herbívora erva que eu erbo 
no meu plantio masculino, 
inverte o chão do seu galho 
arrancado do assoalho 
repicando como um sino?

Ter olhos-Deus! Olhos-sóis
tem-no o Deus que cego a sós, 
tem-no o horizonte a pôr-se 
como colírio em dordolhos, 
tem-no quem me olha nos olhos 
como se cego eu já fosse!

Ah!, se a pedra me fizesse 
fazer-me cobrir quem desce 
à região do ser meu se, 
para não haver nascido 
ou o houvesse enfim já sido 
sem que eu dissera: nasci!

Nauro Machado (1935-2015). Antologia poética. Rio de Janeiro: FNB/IMAGO/UMC, 1998, pp.256-261

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O meu amigo, poeta e editor, Gustavo Felicíssimo, está fazendo um trabalho impressionante. Quando, em 2013, ele me convidou para publicar o livro A dimensão necessária, eu até duvidei: "-- Você publica mesmo?" E não é que o cara publicou! Quem quiser comprar o livro A dimensão necessária, é só ir ao site da Mondrongo: http://www.mondrongo.com.br/   
PASSEIO SENTIMENTAL

Let us go, then, you and I...
T. S. Eliot
1

Não se apieda de mim meu coração...
Um exórdio exigente. Segue em dúvida:

Com essa bela chaga vim ao mundo;
foi toda minha herança...Depois cala,

abandona os ensaios de lirismo,
e sai a caminhar

como quem dá um adeus definitivo
ao impossível com um ricto póstumo.

2

Caminhemos, meu cão, sim, caminhemos...
(Vozes alheias ainda o acompanham.)

Na verdade, são três os cães que o seguem.
Os cachorros saltitam fratricidamente,

Porém, o Zoilo corre atrás dos quero-queros.
O areal se derrama sem limites

e o momento é propício. Na ribeira reina
a solidão feliz: plantas e pássaros.

É paz fingida o silêncio da hora?
Se o coração nega, o esplendor se adensa.

3

O poente é cegante com seu ouro
e para ele o céu é ócio puro.

A divisa intocada do verão – 
a andorinha o deleita numa imagem:

baixando como um dardo para o espelho
do rio quase imóvel,

bebe a ínfima gota que a sacia
sem deter seu voo, sem machucar a flor d’água. 


Ricardo H. Herrera, poeta, ensaísta, tradutor nasceu em Buenos Aires, em 1949. Seus últimos livros são El espíritu del páramo. Cien poemas 1977-2009 (2011); En la paz de la página (2012); Cuestión de luz. Diecisiete poetas argentinos (2013); A los antiguos lobos de las musas. Ensayos elegidos 1987-2012 (2013); El latido de un día (2015). Desde 1999 dirige a revista-livro semestral Hablar de poesía  http://hablardepoesia.com.ar/  Recebeu o terceiro Premio Nacional de Ensayo Literario (1988), o segundo Premio de Poesía La Nación (1988), o Premio Academia Argentina de Letras de Ensayo (1996), e o prêmio Traduzione Libero Bigiaretti Città di Matelica (1996), e, em 2014, o prêmio Rosa de Cobre, reconhecimento da Biblioteca Nacional pelo conjunto de sua obra. Os excertos do poema aqui traduzidos (ao todo são 21) saíram no número 30 da revista Hablar de poesía. 


PASEO SENTIMENTAL


No se apiada de mí mi corazón...
Un exordio exigente. Duda y sigue:

Con una hermosa herida vine al mundo;
 Después calla,

abandona su ensayo de lirismo
y sale a caminar,

como quien da su adiós definitivo
a lo imposible con un rictus póstumo.


Caminemos mi perro, caminemos...
(Aún lo escoltan las voces de los otros.)

En realidad, son tres los perros que lo siguen.
Los cachorros retozan en luchas fraticidas,

en tanto el Zoilo corre tras los teros.
El arenal desborda los confines

y la hora es propicia. En la ribera reina
la soledad feliz: plantas y pájaros.

¿Finge paz el silencio de la hora?
El corazón lo niega, ahonda el esplendor.

3 

El ocaso lo ciega con su oro
y el cielo es ocio puro para él.

Emblema del día intacto de verano,
la oscura golondrina le regala una imagen:

desciende como un dardo hacia el espejo
del río casi inmóvil,

bebe la ínfima gota que la sacia
sin detener su vuelo, sin dañar el cristal. 



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Lançamento do livro Ave noturna, de Márcio Matos, do qual tive o prazer de escrever a orelha. Com a belíssima capa de Mel Campos. Policial? Psicológico? Tudo isso junto e um pouco mais. Da orelha: "Densa em seu conteúdo, trágica no seu desenlace, severa em sua psicologia, vigorosa em sua linguagem, Ave noturna é uma novela com pouso certo no coração dos leitores atentos." Márcio Matos é autor do romance A suave anomalia (Casarão do Verbo, 2010), e do livro de contos A noite em que nós todos fomos felizes (P55, 2014). 


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Emmanuel Santiago, poeta que eu colocaria - coloco - numa antologia da melhor poesia brasileira contemporânea, escreveu o texto (link abaixo) faz um tempo, no entanto, permaneceu inédito, e eu sei que elogio em boca própria é vitupério, mas... um vituperiozinho de vez em quando não é tão pecado assim:
http://antenasdemarfim.blogspot.com.br/2015/11/a-poesia-de-joao-filho-luz-de-joao.html 

Emmanuel Santiago é o autor de um estranho e belíssimo Pavão bizarro. Livraço. Quem quiser adquirir é só ir aqui:
http://editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=240

Quem quiser ler uma rara sextina do Pavão bizarro, procure neste blog em Poesia alheia - Emmanuel Santiago. Aí do lado.
Quarta, 04 de Novembro de 2015 - 16:50

Poeta baiano recebe Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional

por Ailma Teixeira
Poeta baiano recebe Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional
João Filho no lançamento, em 2014 | Foto: Reprodução/ Cemanos de Itabuna
O poeta baiano João Filho recebeu o Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional na categoria Poesia. Em “A Dimensão Necessária”, o poeta natural de Bom Jesus da Lapa apresenta seis séries de poemas inéditos, que começaram a ser escritos em 2006. No momento, o autor está em Buenos Aires para apresentar alguns poemas do livro que serão publicados em uma revista argentina. Na volta, vai direto para Manaus participar do Seminário de Literatura.

“A Dimensão Necessária”, livro publicado em meados de 2014, é parte de uma coletânea da editora Mondrongo, sediada em Itabuna, no sul da Bahia. “Essa série se dedica a divulgar esses poetas, 
já conceituados dentro do meio literário, que começaram a divulgar seus livros no final dos anos 1990”, detalha Gustavo Felicíssimo, editor e fundador da editora. A Mondrongo nasceu há quatro anos, em 2011, como um “braço editorial” do Teatro Popular de Ilhéus. Hoje, a editora possui mais de 120 títulos publicados dentre poesias, contos, romance e ficção. Eles contam também com um selo destinado especificamente aos livros infantis.

Com o prêmio de Melhor Livro de Ficção, em 2014, pela União Brasileira dos Escritores, Felicíssimo não poupa elogios à editora. “Você pode não acreditar, mas hoje nós somos uma das três editoras mais relevantes do Estado da Bahia”, afirma. A Mondrongo foi premiada com o livro “Canção de Ninar Estátuas” do autor carioca Luiz Poeta. De acordo com o editor, essa foi uma das poucas obras publicadas de autores de outros estados.
Capa do livro "A Dimensão Necessária" | Foto: Reprodução
No resultado, divulgado nesta quarta-feira (4), no Diário Oficial da União (DOU), há predominância de editoras independentes. Apenas as categorias “Romance”, que elegeu a autora Tércia Montenegro com o livro “Turismo para Cegos” (Companhia das Letras), e “Literatura Juvenil”, que elegeu Mario Teixeira com “A Linha Negra” (Editora Scipione) foram exceções. Os demais eleitos representam editoras menores, como o livro "Sem Vista Para o Mar" (Editora Edith), da autora Carol Rodrigues, premiado na categoria “Conto”. A obra é finalista da categoria no Prêmio Jabuti 2015.

Prêmio Biblioteca Nacional, 2015 - Lista dos vencedores é divulgada.

CATEGORIA POESIA

VENCEDOR

João Filho com a obra “A dimensão necessária”, publicada pela Editora Mondrongo.

COMISSÃO JULGADORA 

  • Adriano Espínola
  • Antonio Cícero
  • Leonardo Fróes

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

NITIDEZ SUBMERSA 



Nos sapatos confortáveis
um pouco velhos e gastos
a fuligem das cidades
redesenha o seu mapa.

Não me venham com saudades,
sombras, vultos e fantasmas,
o peso e a profundidade
das coisas não nos sufocam.

Dos caminhos caminhados
— avenidas, becos, praças —
multidões tumultuosas
na fuligem dos sapatos.

Pó do mundo respirado
em seu tédio corrosivo,
não escapam os voos altos
das naves mais arrojadas.

Na verdade, nada escapa.
É preciso a cada istmo
contra essa névoa cegante
renovar o gesto limpo,

porém não lave os sapatos,
não porque registre tantos
itinerários, andanças,
mil labirintos urbanos, a

fuligem aí pousada,
cartografia amorosa,
indica veios, filões
dessa nitidez submersa.

Alargue as tuas pupilas:
paciência ao inspecionar
cada trecho dessas nódoas;
nos interstícios, estrias,

nas grafias do diáfano,
se entrevê pela fuligem
a clara sustentação
dos fios frágeis do mundo. 


***


NITIDEZ SUMERGIDA


En confortables zapatos
algo viejos y gastados
el hollín de la ciudad
dibuja otra vez su mapa.

No me vengan con nostalgias,
sombras, cuerpos y fantasmas,
la profundidad y el peso
de las cosas no me ahogan.

De las sendas caminadas
―avenidas, calles, plazas―
multitudes tumultuosas
en el hollín del calzado.

Polvo del mundo aspirado
en su tedio corrosivo,
no escapan los altos vuelos
del barco más arrojado.

En verdad, nada se escapa.
Es necesario a cada istmo
contra esa niebla que ciega
renovar el gesto limpio,

mas no laves los zapatos,
no porque registra tantos
itinerarios, andanzas,
mil laberintos urbanos,

el hollín ahí alojado,
cartografía amorosa,
indica venas, filones
de nitidez sumergida.

Dilata ya tus pupilas:
paciencia al inspeccionar
cada tramo de esas manchas;
en intersticios, estrías,

en los trazos de lo diáfano,
se ve a través del hollín
la claridad que sustenta
la frágil trama del mundo.

Versiones de Laura Cabezas y Ricardo H. Herrera.



quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ya está saliendo de imprenta y será presentado el cinco de noviembre el nuevo número (el ¡32!) de 
HABLAR DE POESÍA.


300 páginas que incluyen desde Ovidio (una extraordinaria traducción de el episodio de Narciso en "Las Metamorfosis") hasta críticas de libros recientes de la poesía argentina. Y también: Octavio Paz, Eliot, Dante, Pessoa y mil etcéteras...

Les compartimos el sumario:

SUMARIO

Ricardo H. Herrera
Hablar de poesía

FIGURAS

Osvaldo Bazil :
Cómo era Darío
Ricardo H. Herrera:
Ricardo E. Molinari
o la aventura del sentimiento
Jason Wilson:
La vigencia de Octavio Paz
Valeria Melchiorre:
Como en filmina una dicha:
La poesía de Arturo Carrera
Mariano Shifman:
Oscar Corbacho en sus poemas

TEMAS

T. S. Eliot:
Lo que Dante significa para mí
Enrico Testa:
La culpa de quien queda.
Poesía y estructuras antropológicas
Alejandro Crotto:
Forma y poesía
Carlos Rey:
Alberto Caeiro
y la imposibilidad de la poesía

POESÍAS

Alejandro Nicotra:
Tres poemas
Rodolfo Alonso:
Poemas al gusto del día
Ramón Minieri:
la escuela de las aves
Celia Caturelli:
meditaciones entre grietas
Pablo Caramelo:
notas frente a una puerta desvanecida
Gabriel Gómez Saavedra:
Música de Tucumán
Pablo Gungolo:
holywood en la provincia de buenos aires

VERSIONES
Ovidio: “Eco y Narciso” (Metamorfosis, III, 318-510)
Prólogo y versión de Alejandro Bekes
Rose Ausländer: 18 poemas
Prólogo y versiones de Celia Caturelli
João Filho: la Dimensión Necesaria
Nota preliminar de Wladimir Saldanha

Versiones de Laura Cabezas y Ricardo H. Herrera

CRÍTICAS
Cecilia Romana:
Al final, volviendo
(Reseña de Vista atrás de Rodolfo Godino)
Ricardo H. Herrera:
La fuente y la derrota
(Reseña de Virgen de proa de Alejandro Bekes)
Carlos Battilana
Recuerdos del forastero
(Reseña de América de Horacio Zabaljáuregui)
Bernardo Schiavetta:
Experimentación poética
(Reseña de Hýpnos de Fernando Ilucik)
Ricardo H. Herrera:
Los desbandes de la morfología
(Reseña de Escorial de Gabriel Gómez Saavedra)
Cecilia Romana:
La casa de la sangre abandonada
(Reseña de Los poemas de Middleburry de Denise León)

Narciso - Caravaggio. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

LÚCIA DELORME LENDO DOM FILIPE 



“Meu amor por essas margens?
Nem sei onde se alicerça,
mas se eu digo involuntário
a palavra não é essa.
Se eu digo vertigem, fado,
o não dito me atropela.

Vem de longe, vem do alto?
Por si próprio ou chamamento?
Esse amor tem nome claro
no invisível continente,
se algum barco for buscá-lo,
achará todos os ventos.

Continente constelado
de ilhas, naufrágios, idílios,
corsários de uma linhagem
mais velha que os velhos ritos,
cercados do mar alado
– o real é seu exílio.

Rabiscam na praia viva
mensagens lidas nas águas,
ondas sem idade brincam,
levam o que não se apaga,
e desimporta em que língua,
todas as línguas são válidas.”