quarta-feira, 18 de junho de 2014


QUARTO TEMA SEM JÚBILO



Uma angústia desnuda entre os pinheiros,
procura a sua pátria: mas que encontra,
sob a lua quebrada, senão névoas?

Há um frio que não dorme nessa espera
de braços arrancados: por que tentam,
mesmo presos ao chão, furar os ares?

Por que, se não são livres, se condenam
a suportar o hálito dos anjos
e, nos nervos, crispada a Voz irmã?

Por que o horizonte empanam mais que a névoa,
se o não podem violar? E se esse frio
lhes murchou as capelas invioladas?

Senão porque uma voz lhes fala em vida,
mesmo quando longínqua? E a voz do encontro,
quem sobre e sob a terra calará?

Se ela, a Irmã, a mais próxima do sangue,
em seu colo de espera traz amarras
que são ainda mais firmes que as do chão?

Por que a angústia desnuda entre os pinheiros
procura a sua pátria, e além da lua,
não vê que a pátria está chorando névoas?

Ângelo Monteiro. Todas as coisas têm língua. Recife: CEPE, 2008, p.299