domingo, 14 de abril de 2013

37.

E um macio de sombra pela frente
me leva a meditar no irrevelado
que há no amor e nas coisas e no quanto
o que não se revela é necessário.
Pois só o que é evidente é que se extingue,
por força não do excesso, mas do uso,
do uso que me informa e ao meu hábito,
hábito que empobrece o que confundo,
pois pode o amor tranqüilo uma aparência
ganhar de tédio, enquanto que em verdade
tanto mais calmo quanto mais profundo
é o rio ininterrupto no seu curso,
todo claro por fora, mas por dentro
cada vez mais distante e mais obscuro.

Marly de Oliveira, Obra poética reunida, Massao Ohno Editor, 1989, p.115