sexta-feira, 24 de maio de 2013

Quatro poemas de Bernardo Souto: 
 

SALOMÃO
 
com tijolos feitos de nada
erigi templos e palácios
 
num tempo anterior às horas
escrevi um breve epitáfio
 
só agora compreendo
o estranho idioma dos pássaros

 

HADES 


por muito tempo fitei a Morte:
murmurava-me palavras claras
num idioma desconhecido

sua intangível proximidade
sempre me nutria de medo
remorso
e asco

branca tarântula
feita de abismo

é Ela
que ata as duas pontas da vida

é Ela
a inexistente fronteira
que separa a noite do dia

por muito tempo fitei a Morte

  

BLAISE PASCAL 
 
nunca
ninguém
jamais
será escutado
 
surdo é o grito
dos afogados 

Bernardo Souto, Teatro de sombras, Ed. Moinhos de vento, 2011. 
 

LAO-TSÉ
 
nos confins do Infinito
encontra-se a Fonte
 
jamais poderás ouvi-La
jamais
poderás vê-La
 
aquele que não sentir esta Fonte
será aniquilado
pela mudez das estrelas 

Este último na revista: http://www.leiatom.com/?p=45

 

 
 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Acabou de chegar da Alemanha, uma tradução do conto "Cicerone cego", que está em meu livro Ao longo da linha amarela. Agradeço ao meu caro poeta, tradutor e ensaísta Ricardo Domeneck pela indicação. Ao Timo Berger pela antologia com outros autores (entre eles Michel Laub, Adriana Lisboa, Ricardo Lísias, Katherine Funke, Daniel Galera, Joca Reiner Terron etc.), e pela tradução de Odile Kennel.

Surrealismo é isso aí. Não tente entender, pois não quer dizer nada.

A UMA DEUSA
(Atribuído ao poeta Luís Lisboa, do Maranhão)

Tu és o quelso do pental ganírio
Saltando as rimpas do fermim calério,
Carpindo as taipas do furor salírio
Nos rúbios calos do pijom sidério.

És o bartólio do bocal empírio
Que ruge e passa no festim sitério,
Em ticoteios de partano estírio,
Rompendo as gâmbias do hortomogenério.

Teus lindos olhos que têm barlacantes
São camençúrias que carquejam lantes
Nas duras pélias do pegal balônio.

São carmentórios de um carce metálio,
De lúrias peles em que pulsa obálio
Em vertimbáceas do pental perônio.

José Augusto Fernandes, Dicionário de rimas da Língua Portuguesa, Ed. Record, 1984.