sexta-feira, 25 de abril de 2014


A VIDA INTEIRA ESTA EMPREITADA 

 

Se desejou alguma vez
ruflar na calma dos meus braços,
foi fogo branco de uma fênix —
queimou, fugiu no descompasso

entre a sonhada captura
e esse vazio ou quase nada,
que faz sorrir certos amigos,
olho do ser — vida acordada. 

Voo invisível que norteia
meu coração e seus velames,
insufla luz dentro das veias
a circular num autoexame. 

Mas, o convívio agora: espreita,
com o seu pássaro sem sombra,
perturba e dana com rasantes —
o corpo cai, da mente zomba. 

Por mal olharem vão dizer
(desconhecido ou inimigo)
que são efeitos deste lápis
sobre o papel, modesto abrigo, 

para a grandeza que só posso
forçosamente contemplar;
também revolto, vil blasfemo
como quem deve e quer cobrar.
 
A dimensão necessária. Ilhéus: Mondrongo, 2014, p.21,22.