quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Texto do meu caro amigo Caius Marcellus, artífice refinadíssimo. Seu blog: ht/tp://clausclars.blogspot.com/   

Andrea Mantegna

faz tempo qu' eu não revisitava Mantegna com tanta atenção . e Mantegna foi um daqueles soberbos desenhadores do Quattrocento que me formaram . seu traço incisivo, seu modelado escultórico nunca saíram de minha cabeça . aliás, confesso que nunca resolvi [se fosse preciso resolver...] o conflito entre uma tendência a um desenho conclusivo, formalmente perfeito [do latim perfectus, i.e., acabado, consumado] e um desenho "impressionista", como o desenho Muromachi, com sua notação tão minimalista quanto sugestiva . mas parece que o equilíbrio pode se dar numa alternância dos dois modos, quando levo a cabo uma sua transposição em termos pictóricos, como alternâncias no foco duma câmera fotográfica, sem contudo indicar instantes diferentes.

Mantegna, il principe dei pittori, está na origem do classicismo ideológico, sua faceta menos atraente a meus olhos . é dele que promana aquele esforço por figurar, com precisão arqueológica, arquiteturas, objetos e costumes da Antiguidade, uma tendência que se desdobra tanto no classicismo francês, com suas tipologias rigidamente fixadas, quanto nos filmes hollywoodianos sobre o mundo greco-romano, profusamente povoados de referências antigas cujo espírito parece ter abandonado aqueles cenários pouco antes do início das filmagens.

mas é dele igualmente aquele amor pela plástica que torna suas pinturas, mais do que uma festa para o olho, uma festa para o tato . Mantegna desenhava esculpindo, e sua pintura está tão próxima de altos e baixos relevos [que o pintor não deixou de figurar como citações cultas em obras maiores] quanto de grupos escultóricos dispostos num espaço cuidadosamente construído para acolhê-los, depois de apropriadamente policromados [a "Cucifixão" do políptico de San Zeno ou o "São Sebastião" de Viena o demonstram à saciedade].

para mim, contudo, a mais notável qualidade de Mantegna é essa: sua pintura não esconde a técnica . pelo contrário, essa pintura ostenta sua técnica e, com ela, o disegno que lhe serve de ossatura, as operações mentais que a formaram . tudo em Mantegna tem sua perfeita circunscrição, seus limites espaciais, sua medida naquele espaço inventado, e nisso seu modus operandi se manifesta mesmo na obra acabada . aliás, essa mise-en-valeur da artisticidade é uma qualidade dos artistas de seu tempo de um modo geral, mas que no mestre mantuano torna-se um princípio seminal.

Um comentário:

  1. João,
    que beleza este seu espaço.

    estou conhecendo tudo aos pouquinhos...

    adorei a listagem dos livros.
    e em especial a antologia Dedo de Moça (tenho o meu aqui guardadinho aqui. ganhei da queridíssima Líria Porto - que também está na antologia).

    anotarei os outros títulos, fiquei muito interessada.

    abraços para você,

    Jenifer

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