terça-feira, 4 de novembro de 2014

18. A força que há na luz, não sua ausência,
     pode ser a origem mais secreta
     do escuro em que afundamos de repente:
     por excesso de luz, eis que estou cega,
     por excesso de amor, eu não entendo
     - o farfalhar macio, a crua seda -
     aquilo que nos move, e que ultrapassa
     o limite de tudo o que sabemos.
     Por excesso de dor eu me humanizo,
     eu me faço pequena e tão real,
     nos tornamos serenos, silenciosos,
     tão reais e inocentes e macios,
     que essa luz que não vemos é demais.
     Mesmo ser é um excesso em que caímos.

Marly de Oliveira. Obra poética reunida. São Paulo: Massao Ohno editor, 1989, p.105