segunda-feira, 27 de abril de 2015

SONETO 6


Debruço-me na tarde sobre a Ilha,
enquanto o sol estanca no vermelho,
e derramo lembranças nas areias
e na relva, nas flores e nos frutos.

A memória na tarde é um calendário
que registra os mais lúcidos instantes
dos meus passos incertos e perdidos
na minha imponderável geografia.

No silêncio da tarde me absorvo,
perdido nos seus pontos cardeais,
marinheiro sem rumo e sem estrela.

Percorro a Ilha sem mirante e mapas
e céu e terra escapam dos meus dedos,
como fios de luzes intocáveis.

Carlos Moliterno. A Ilha. Maceió: EdufAl, 1997, p.24