sexta-feira, 8 de junho de 2012

Poemas do meu amigo Alex Simões. O último poema deste post "Luar no feicibuque" é um presente de Alex Simões para este blog. O poeta por ele mesmo:

Alex Simões (às vezes alexsim) é poeta bissexto, sonetista aspirante a livre-versejador e militante, ao seu modo, de causas perdidas no tempo. Também é mestre em Letras, professor autônomo de Português (para estrangeiros e para brasileiros, atuando em projetos de formação de professores, secretário executivo da Sociedade Internacional de Português Língua Estrangeira), revisor de textos. Tem alguns poemas publicados em coletâneas (Poesia Sempre, Iararana, entre outras) e na Internet www.verbo21.com.br, entre outros. Tem também alguns poemas musicados por Álvaro Lemos. Não publicou nenhum livro (tem um inédito, chamado "Estudos para Lira", que recebeu uma  menção no Prêmio Copene), nem criou um blog com seus textos, mas pensa em fazer isto e aquilo um dia, quem sabe.

Os poemas:

ESTES, OS MOTIVOS


doem-me os ombros, tantos são os pesos,
línguas mortas e vivas misturadas,
a plêiade no peito embaralhada,
os esquecidos como contrapeso.

mil vozes confundidas no desejo
de ter consigo a minha entrelaçada.
o medo de parar na encruzilhada
entre rimas, ideias e solfejos.

a folha em branco amarelada está
(há sempre um risco de perder-se). há
sempre um mesmo fantasma em breve assomo:

o mundo derretendo-se em milênios,
poetas trôpegos, prestos boêmios,
eu e você cantando velhos nomos.


SOBRE MORRER
Para Nilo Alcântara, in memoriam


quem deu um tiro em tua nuca
e te amarrou os pés, te pôs
num saco sob a terra, pois,
deve ter mais fundida a cuca

quanto fundida a minha está
quem põe os rótulos, quem diz
como se deve ser feliz
o que será e não será

vem do poder que alguns arrotam
a língua o sexo a cor a classe
saber de quem olhar a face
temer objetos que nos cortam

lições que as ruas pedagógicas
nos dão em doses alopáticas
da morte surge a matemática
dispondo os corpos noutra lógica

horizontal te vejo eterno
retorno ao pó (quem dele escapa?),
a vida a gente assim solapa
eliminando os rostos ternos

vai-se o caixão, ficam meus dedos
atravancados nesta terra
quem ama mata morre berra
aprende ama o próprio medo

neste vazio em que ora habitas
uma canção, teu manifesto,
loas à tez, à mais bonita,
deuses de Ébano te empresto

that Black is beautiful, my Lord
embora em línguas de outras gentes,
façamos nossos os acordes
que dizem mais sobre viventes


MOVIMENTO AVESSO


preciso de viver com mais vontade,
embora essa preguiça que ora ostento
reflita o meu caminho contra o vento
num movimento avesso ao da cidade.

cioso desta desindentidade,
lanço meu corpo em muros de cimento,
atiro-me ao asfalto e o sentimento
se perde por detrás de imensas grades.

o coração perplexo e irresoluto
— essa esfinge que dentro do meu peito
declara para todo sempre um luto —

redime e ameaça a minha garganta:
“àqueles que não vão pelo direito,
resta entoar o que esse avesso canta”.



DE PERGUNTAS E POETAS
(a Marcus Vinícius e Állex Leilla)


não se pergunta nada a um poeta
que é por definição das Evasivas
amigo, assim como Musas e Divas
lhe rodeiam a cabeceira, cometas.

com um poeta nunca se intrometa
que a sua cabeça à beça a si se esquiva
e no esquivar-se iguala-se a sua Diva
e fica mal ferir a quem com sua seta

fere, mas só com amor e com rodeios.
e nisto é que consiste o não indagar
àquele que ignora qualquer freio

ou direção, não tente lhe roubar
porque ele vem vazio, quem mesmo sabe
por que será que nele tudo cabe?


LUAR NO FEICIBUQUE



eu vi a lua e toda ela estava
assim vermelha e amarela e branca
como convém olhar a uma distância
que, à linha do horizonte, a estrela dava

a direção e a cor: não do planeta,
nem a estrela dalva uma cantora
de "quem mora na lua", mas pletora
de luz que vem do astro-rei, projeta

a lua que tem sempre as mesmas cores
e suas canções vezeiras, suas pobres
rimas cheias de hiatos alteados.

noutra noite de lua, a novidade
foi vê-la no meu feicibuque e, ao lado
da montra, a mesma lua, noutras cidades.