segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


9.2
 
Manhã luminosa,
pura, calma, azul!
Solidão da rosa
sob o céu azul.
 
Livre, aberto, nítido,
tudo que se dar.
Mas, sensato e tímido,
desvias o olhar.
 
Tudo está maduro
para as tuas mãos.
No entanto, inseguro,
recolhes as mãos.
 
Pródiga, serena
(nem boa, nem má),
vida clara e plena
— quem a colherá?
 
Marco Catalão, Antes de amanhã, LivroPonto, 2008, p.83.
 
 
O VÍRUS
 
Meia-noite. Depois de um dia inteiro
de trabalho árduo, o que eu não esperava
ocorre: o mouse de repente trava.
Engasgo. Sinto um calafrio ligeiro.
 
Digo à tela: “Era só o que me faltava...”
Tento reiniciar. Em vão. Primeiro
com método, depois com desespero,
faço tudo o que posso, mas na oitava
 
tentativa desisto. Meus suspiros
são inúteis. Perdi de uma só vez
tudo o que tinha feito em mais de um mês.
 
A morte é esse dissimulado vírus:
se instala em nosso software, secreta,
e antes que a percebamos nos deleta!
 
Marco Catalão, O cânone acidental,É realizações, 2009, p.49.