sexta-feira, 28 de agosto de 2015

“La poesía me lo ha dado todo, sobre todo teniendo en cuenta lo poco que yo le he dado a cambio. No sólo me ha dado una forma de ver, pensar y sentir la realidad, creo que distinta y más plena que si la mirara con otros ojos, me ha dado también una concepción del mundo, siempre abierta y asombrada, que se ha construido con lugares y personas que no habría conocido de otro modo y que han ido conformando mis nostalgias, mis afectos, mis necesidades y mi vida. Hasta el amor me ha dado, que el desamor nunca es culpa más que nuestra.”


Amalia Bautista

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dois poemas inéditos de Claudio Sousa Pereira. Da série Poemas gregos.

I. DE ISMENE A ANTÍGONA

Minh'alma não tem a plena justeza
de encarar a cruzada
de mergulhar na ferida
de lutar por justiça.
Minh'alma tem apenas a total certeza
de soluçar pela perda
de contemplar o fogo
do coração em tua lida.

III. CREONTE, EM SI

Vale mais cumprir os desígnios da ordem
ou ver o risco oculto revelar-se?
O que adianta agora cumprir a palavra
se o imponderável mostra a tua chama?
O que adianta agora o rigor do poder
se vejo sangue e ausência
pela desgraça duplicada?
A velhice em mim não ensinou
a prudência.


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

SUSTENTÁCULOS 


Há muitas belezas escondidas no mundo.
Sutis como os desenhos de areia e espuma na praia,
modestas – os reflexos da noite na avenida molhada.
O clichê dos contrastes: bem-te-vi no semáforo.
A monumentalidade efêmera
de nuvem sobre nuvem,
                              no céu da Barra.
Qualquer árvore.
Belezas tristes –
um velho atravessando um parque.
O silêncio inquieto quando a multidão se dispersa.
A solidão desses lugares.
Um cheiro
abrindo suas três infâncias
num ato – 
perfumes de luz que só você sabe.

Há muitas belezas escondidas no mundo:
elas, os santos, alguns anjos
evitam que o mundo desabe. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

- VI - 
O CORCOVADO
                            
                              Para Vavá Menezes 


És uma lâmpada que adormece na noite úmida
De dia chamas por meu nome e não te escuto
Nave de luto, ombro de urso, por quem respondes?
Formas bizarras ondas mutáveis de tua sombra

Ora és floresta, cerradas matas que escondem luas
São cordilheiras verdes que avisto de minha rua
Ora um penhasco ergue-se agudo na crina espessa
Ou a clausura inatingível das abadessas

São paredões, mastros abruptos que ensinam ilhas
Ou formam asas de aves mouras, raras novilhas
Não te decifro se estás absorta entre a neblina
Ou te distingo clave soturna sobre a colina

És tantos signos de personagens que trocam nomes
Por vezes vestes uma corcunda de Notre Dame
Mas me pareces o altar de um atlas de olhos místicos
Enigmática, guardas a porta do novo Cristo.

Denise Emmer. Assombros & perdidos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2011, p.24

sexta-feira, 7 de agosto de 2015


Solilóquio sem fim e rio revolto --
mas em voz alta, e sempre os lábios duros
ruminando as palavras, e escutando
o que é consciência, lógica ou absurdo.

A memória em vigília alcança o solto
perpassar de episódios, uns futuros
e outros passados, vagos, ondulando
num implacável estribilho surdo.

E tudo num refrão atormentado:
memória, raciocínio, descalabro...
Há também a janela da amplidão;

e depois da janela esse esperado
postigo, esse último portão que eu abro
para a fuga completa da razão.

Jorge de Lima. In_Livro de sonetos. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.163

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

— Nadie más insoportable que el que no sospecha, de cuando en cuando, que pueda no tener razón.

— Nada más frecuente que despreciar a muchos que debieran más bien despertar nuestra envidia.

Nicolás Gómez DávilaEscolios a un texto implícito. 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A NOITE FRIA
A Malu Grabowski

I

Eu fiz de tudo um capitel de escombros.
Dediquei-me a arruaças repentinas,
amontoei no ar minhas ruínas,
joguei tudo no chão e dei de ombros.

Sacrifiquei assim crenças e assombros
à doce inconclusão das cavatinas:
via-os ruir e ao ritmo de seus tombos
ia compondo estrofes assassinas!

Não tem perdão meu perdulário ofício
de tordo de deserto -- que onde eu pouso
o cacto em flor da arte, este meu vício,

é tudo insolação; que um fabuloso
sol carnívoro e frio põe um gozo
mavioso onde eu ponho um precipício.

Bruno Tolentino. O mundo como Idéia. São Paulo: Globo, 2002, p.366