quinta-feira, 10 de julho de 2014

08 – 

Não leve nada, vá só, sem bagagem,
o que ficar, valeu, desapareça
ou não, e vai doer, sem malandragem,
e desadianta não querer, esqueça, 

nada de choro, esboço, uma sondagem
antes de ir, espere o pior, desça
ou suba, assim, sabendo, sem chantagem,
e desconfie dos guias, mas aquiesça,

já que é inútil resistir, herói
ou sábio não serás, e se te derem
tais atributos, é falso, vil lábia,

recuse tudo, o dado se destrói,
nem pense que o corpo é teu, se te ferem,
deves, pois morrer é o dom da cobaia.   
  

09 —


Não é tão sem sentido assim, senão
não continuarias. Olha aí
mais um livro, são quantos já? Pois vão
dizer, e com razão, que o verso ali

— apesar do rigor e da canção —
é beco sem saída e volta sobre si
mesmo, como um guru da negação
numa espiral irrespirável. Li

a estrangulada letra dessa vida,
na qual se escuta o eco alucinado
do seu sonoro círculo suicida.

Apesar da beleza deu enfado.
Exagero? Talvez. A trilha é batida,
mas que gerou um nome e alguns trocados.

A dimensão necessária. Itabuna: Mondrongo, 2014, p.76,77