O VATICÍNIO DA
SERPENTE
feitas
de rude barro
inúteis
são tuas asas
filho do Homem
à Ilha
foste condenado
e nada
saberás a respeito da Queda
cuidado
querubins
sanguinários guarnecem o Paraíso
se
muito te aproximares
ao pó
volverás
estás
imerso em turvas águas
filho do
Homem
nada
podes divisar
senão vultos
aprende
o voo-flecha do peixe
e
vislumbrarás o eterno
ECLESIASTES II
nadar
desde a
madrugada do tempos
nadar
até que
o Pescador Implacável
lance a
rede sobre o mar
HERMES TRIMEGISTO
as brancas
águas do silêncio
dissolveram-me
os tímpanos
e meu
brado lacerou
o duro tecido
dos séculos
restou-me
caçar esfinges
por
entre miragens no deserto
BLAISE PASCAL
nunca
ninguém
jamais
será escutado
surdo é o grito
dos afogados
***
formiga
afogada
no mar
da lágrima
***
xadrez a três
o sopro do vento
derruba reis
Bernardo Souto. Poemas dos livros Teatro de sombras. Recife: Edições Moinhos de Vento, 2011 & Elogio do silêncio. Recife: Ed. do Autor,
2010.